A beleza do perdão

Texto de Pe Alcides Marques, CP

Na oração do Pai-Nosso dizemos: “perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Nós pedimos que Deus nos perdoe na mesma proporção (do mesmo jeito) com que nós perdoamos aos outros que nos ofenderam. O interessante é que Jesus reconhece que os seus discípulos têm a capacidade de perdoar, senão ele não os ensinaria a rezar assim.

O que é perdoar? Perdoar é reconhecer que a pessoa é maior do que os seus atos. No caso, maior do que os seus atos negativos. Perdoar é não aprisionar o outro nas conseqüências negativas de seus atos. Perdoar é reconhecer que a pessoa por ser “criada à imagem e semelhança de Deus” possui uma dignidade divina que sempre deve ser considerada.

Perdoar não é propriamente esquecer. Nós não temos como apagar algo de nossa memória. Muita gente acha que não perdoa porque não consegue esquecer e vive se martirizando interiormente por algo que não é responsável. Perdoar é não levar em conta os atos negativos da pessoa, mesmo não conseguindo esquecê-los, por reconhecer que a pessoa é maior do que tais atos e que, por isso mesmo, não deve ser reduzida aos mesmos. Perdoar é não excluir a pessoa de nossa vida.

Mas o perdão não pode ser uma desculpa para a nossa dificuldade de enfrentar a vida e de lutar pela nossa própria dignidade. O perdão verdadeiro não é um ato de fraqueza, de covardia, mas de força, de coragem, de fortaleza espiritual. Perdoar porque não tem outro jeito, isso não é perdão.

É por isso que temos o direito de reclamar justiça. O Deus revelado pela Sagrada Escritura é o Deus da justiça e da misericórdia. Justiça e misericórdia devem estar lado a lado. É claro que eu devo perdoar, mas também tenho o direito de exigir que o outro corresponda a esse perdão recebido, que repare de alguma forma os danos provocados, que demonstre em atos estar seriamente arrependido. Nós não temos o direito de tratar o outro como coisa, mas também não devemos deixar que o outro nos trate como coisa. O perdão não pode ser um pretexto para que as pessoas sempre nos tratem como objetos. Quando sentimos que é assim, devemos nos libertar o quanto antes de tais pessoas e de suas influências. Entregá-las à misericórdia de Deus. E pronto!

Mas, sempre que possível, o perdão deve prevalecer. Perdoar é uma forma nobre de amar. É amar a pessoa para além de seus defeitos. Perdoar é tornar a vida possível entre nós. Se não nos perdoamos, nossa vida se tornará impossível. Perdoar o outro é também uma forma de nos amar. Faz bem perdoar. Faz bem para o espírito, para a mente, para o corpo. Muitas doenças podem ser evitadas quando nos libertamos de ressentimentos.

Na Primeira Carta de João, capítulo 3, versículo 20, diz-se o seguinte: “Se nosso coração nos acusa, Deus é maior do que nosso coração”. Vale a pena repetir: “Deus é maior do que nosso coração”. Muitas vezes nós não conseguimos perdoar nem a nós mesmos, quanto mais os outros. Quando isso acontecer você não deve se desesperar, mas colocar a sua vida e a vida das outras pessoas nas mãos de Deus. Diga para si mesmo: eu não consigo perdoar essa pessoa, gostaria, mas não consigo, peço a ti, Senhor, que a perdoe… Deixe Deus agir em  você. Você vai se surpreender com o resultado.