Choro: a difícil arte de aprender com as perdas

Texto de P. Alcides Marques,CP

Terceira bem-aventurança: “felizes os que choram, porque serão consolados” (Mt 5,5). Ou também “felizes os aflitos”. O choro é o resultado natural de uma experiência de perda, melhor dizendo, de uma forte experiência de perda. É a manifestação corporal da emoção da tristeza. Qual é o ensinamento da bem-aventurança? São vários. Aprendam com o choro, aprendam a vivenciar profundamente todas as grandes perdas que a vida impõe. Aceitem as perdas, reservem um tempo para chorar por elas. Não fujam dessas experiências aparentemente negativas. Só podemos superar uma perda, quando a vivenciamos totalmente. “Felizes… porque serão consolados”.

Precisamos aprender muitas coisas da vida. Uma delas é aprender com as perdas. O nome tradicional desse tempo que cada pessoa deve reservar para chorar as suas perdas é luto. O luto é o tempo em que a pessoa se dispõe a refletir, a sentir, a se colocar em oração, a voltar-se mais para si mesma, a chorar… É necessário deixar fluir todas as emoções e sentimentos que decorrem da perda. Jesus chorou a morte de Lázaro, Jesus chorou a infidelidade de Jerusalém. A travessia do luto precisa ser feita sempre.

São muitas as formas de luto. O luto pela morte de alguém próximo, o luto pela perda de um animal de estimação, o luto pelo término de uma relação, o luto pela perda de um emprego, o luto pela perda da saúde, o luto pela perda da juventude, o luto pelo fracasso de algum empreendimento, o luto pela perda de uma imagem de si.

Qual é o objetivo do luto? É aceitar que o passado se torne passado. Porque, na maior parte das vezes, o passado se projeta sobre o presente e impede que este seja vivido como deve ser vivido. Por isso, ficar de luto é uma verdadeira bem-aventurança. É fazer com que o passado seja realmente passado. Isso não quer dizer que devemos tentar esquecê-lo, o que seria impossível. Quer dizer apenas que não devemos deixar o passado tomar conta do presente.

Portanto, é preciso viver o luto e fazer sua travessia. Muitas vezes as pessoas ficam aprisionadas em suas memórias, em suas lamentações e é preciso ir além. Mas para ir além é preciso fazer a travessia. Porque quando não vivenciamos o luto, o corpo pode vivenciá-lo em forma de doença. Vivenciar o luto é uma condição não apenas para a reconquista da felicidade, mas também para a manutenção da saúde.

A química da lágrima, como de todas as secreções, reflete o estado do organismo. E com as lágrimas muitas coisas são lavadas, limpas. Do ponto de vista psicológico, uma pessoa sente e respira melhor quando pode chorar depois de uma grande dor. Existem lágrimas que ficam afogadas na garganta, presas no coração e é importante deixá-las correr para que a limpeza interior seja completa.