São José, o santo silencioso, mas…

Texto de P. Mauro Odorissio, CP

Os seres humanos se reúnem em grupos que os caracterizam pelas idéias que abraçam, pelos objetivos que assumem, pelos serviços que prestam: partidos políticos, sindicatos, clubes… Além de nomes, têm bandeiras, cores, sinais que os identificam.

Também os países têm representações que lhes são próprios. Assim, além da bandeira, do brasão, das cores e do hino pátrio, desde 1961, o Brasil tem um símbolo nacional: o ipê amarelo. A planta é conhecida em todas as regiões e se impõe por sua beleza.

Países, cidades e paróquias possuem patronos, são dedicados a mistérios da redenção, a Santos ou Santas… São os oragos ou titulares, os protetores que sugerem e iluminam uma linha de vivência cristã. Os brasileiros, por exemplo, se reúnem sob o manto de Nossa Senhora Aparecida.

S. José é o padroeiro de muitas cidades, de muitas paróquias, de muitas pessoas que trazem o seu nome. Existem devotos, muitíssimos, por sinal, que por eleição pessoal o escolheram como o seu santo de devoção. 19 de março é festa de S. José e ele será especialmente venerado, cultuado.

Os Evangelhos falam muito pouco do Santo. Não colocam uma única palavra em seus lábios. Todavia, as poucas referências que lhes faz, mostram a sua grandeza espiritual. S. José merece alguma reflexão, um estudo um pouco mais detalhado.

O jovem judeu se casava cedo: antes dos dezoito anos. Na pequenina Nazaré, aparentemente, José não tinha muita opção de escolha. Assim mesmo, nenhuma adolescente do mundo superaria a quem ele elegeu para ser a sua esposa, a mãe de seus filhos: Maria. Não se sabe como, mas ele a adquiriu (era assim entre os judeus), ou trabalhando em favor de futuro sogro, como fizera Jacó (Gn 29,18), ou versando dinheiro, ou até trocando-a com mercadorias. A verdade é que, por mais alto que fosse o preço, o “negócio” sempre seria excelente.

Todavia, no período que chamamos de noivado, a Virgem, não se sabe como, lhe revelou estar grávida. Como reação, o mínimo a se esperar era que “lavasse a honra” ferida, fosse ressarcido pelo “prejuízo”: comprara uma jovem virgem e estava recebendo uma mulher grávida. Mas, acima disso tudo, era dele denunciar Maria, conforme o preceito da Lei (Dt 22,23-24). Nesse caso, ela seria apedrejada até a morte, cabendo-lhe, ainda, a atirar a primeira pedra.

O drama do Santo não foi pequeno. De um lado, ele amava Nossa Senhora; mas, do outro, havia um preceito legal a ser observado. Pensava: quem era ele para julgar e condenar? Todavia, o sinal do “crime” era evidente e a Lei era implacável. Refletia, rezava! Decidiu “transgredir” a Lei, não denunciando Maria (Mt 1,19). Ao menos salvaria duas vidas.

É necessário que façamos uma breve digressão para que melhor compreendamos o Santo, sua decisão e sua estatura moral. E, compreendendo-o, como devotos, saibamos imitá-lo.

Jesus disse que não viera para revogar a Lei, mas para cumpri-la (Mt 5,17-18). Todavia, Ele a “transgredia” curando aos sábados, o que era proibido. Mostrou, porém, que o sábado fora feito para o homem e não o homem para o sábado (Mc 2,27). Então, o Mestre acatava o espírito da Lei. Ele não a “observava”, mas a “cumpria”; ia ao profundo do seu objetivo.

Voltemos, agora, ao nosso Santo. Denunciando Maria, como preceituava a Lei, ele permitiria a morte de dois inocentes. Isso lhe era inconcebível. Meditava, rezava, buscava luzes. Queria discernir a vontade divina. Decidiu: sem escândalo, abandonaria N. Senhora. Perderia seu “negócio”, “transgrediria” a Lei. Todavia, Mãe e Filho seriam salvos e cumpririam suas missões.

Nestas alturas o Senhor se manifestou e ele acatou o querer divino (Mt 1,18-25). Alterou os seus projetos pessoais, salvou Maria e Jesus. Fez próprio o querer de Deus. É o grande S. José.

Com isso tudo, S. José se torna: modelo de orante. O que se achega a Deus para discernir-lhe a vontade. Modelo para os que desejam sintonizar o próprio querer ao projeto divino. Modelo de respeito à pessoa humana. É capaz de não observar a Lei para salvar a pessoa, antecipando o que diria Cristo: o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado (Mc 2,27).

Que todos sejam seus devotos e que todos os devotos de S. José sejam seus imitadores. Assim, o mundo será melhor.