Defesa da vida

Texto de P. Alcides Marques,CP

“Em vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Este versículo do evangelho segundo João deveria ficar gravado para sempre em nossas mentes e corações. A missão de Jesus é construir a vida em plenitude para todos. Muitas pessoas se contentam em viver pela metade, viver mais ou menos. Mas Jesus deixa bem claro: é vida em abundância.

O primeiro desafio para o cristão, como discípulo de Cristo, é o de priorizar a vida. Não tanto a sua vida individual, mas a vida maior, a grande vida, essa vida da qual a nossa vida é uma parte. Como diz a canção: “sou uma parte de uma imensa vida”. Quem consegue se desapegar da “pequena” vida individual e entender-se como parcela da vida maior, ganha a vida. Quem se apega a sua vida individual e se separa da grande vida, perde a vida. “Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e da boa nova, vai salvá-la” (Mc 8,35).

A vida humana possui uma dignidade ímpar, única. E essa dignidade deriva de sermos criados a imagem e semelhança de Deus, da encarnação de Jesus Cristo, o Verbo que se fez carne e veio morar entre nós e, sobretudo, de sua morte redentora: corpo dado por vós e por todos, sangue derramado por vós e por todos.

Em razão de tal dignidade, somos chamados a construir, proteger e defender a vida em todos os momentos, sem nenhum tipo de condicionante: tanto em seu momento inicial (contra o aborto) quanto em seu momento final (contra a eutanásia), mas também no intermediário: a vida dos menores, dos pobres, dos anciãos, dos doentes, das vítimas da discriminação, das pessoas com deficiência e assim por diante. E essa consciência brota de nossa fé: nós não somos donos da vida, nem mesmo da nossa própria vida, mas recebemos de Deus a missão de cuidar da vida.

Defender a vida inclui a defesa da criação como um todo. Os seres humanos são os responsáveis pela natureza, não os seus donos. Precisamos urgentemente adquirir a consciência de que também a natureza merece ter vida plena. Desenvolver uma atitude de respeito para com a criação: animais, plantas, terra, água, ar… Não agredir a natureza. Entender que a consciência ecológica é um valor religioso para nós cristãos.

Nós, seres humanos, domesticamos alguns animais para coloca-los a nosso serviço, tanto no trabalho quanto na convivência. É certo que a convivência com alguns animais, como cachorros e gatos, tem um poder terapêutico, pois ajuda a nossa vida a ser melhor, mais alegre, mais otimista. A crítica de que o amor aos animais substitui o amor devido aos seres humanos, não tem ressonância na realidade. As pessoas que mais se dão bem com animais, normalmente são pessoas de uma humanidade mais aprimorada. O que não pode acontecer é transformar animais em seres humanos. Animais são animais e devem ser tratados, educados e amados como tais. Os animais também são criaturas de Deus e cada um deles tem algum tipo de recado divino para nos oferecer. Por isso mesmo, a nossa responsabilidade para com eles é para sempre. Nunca maltratar, nunca abandoná-los quando doentes ou idosos.

Façamos parte do exército da vida. Vamos defender a vida toda e de todos os seres humanos. Vamos trabalhar para termos uma vida cada vez melhor, mas nunca vamos nos esquecer daqueles que não tem como conquistar um mínimo de vida. Vamos defender a vida da criação, a vida do planeta. Ser cristão é ser como o Cristo: defensor da vida.