Perseguidos pela justiça: não ter medo de desagradar

Texto de P. Alcides Marques, CP

Oitava bem-aventurança: “felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,10). Não se trata aqui de ser perseguido por qualquer motivo, nem mesmo por razões religiosas, mas perseguido por causa da justiça. Na bem-aventurança fica claro que a justiça é a causa maior, a razão de nosso viver. Tanto que ser perseguido por causa dela deve ser entendido não como sofrimento, mas como caminho de felicidade.

Na bem-aventurança da justiça – “fome e sede de justiça” -, aprendemos que ser justo é não causar prejuízo. Em resumo: não prejudicar os outros para se beneficiar e nem prejudicar a si mesmo para beneficiar os outros. Já a bem-aventurança da perseguição, busca nos alertar a respeito daquilo que nos desvia do caminho da justiça: o medo de desagradar, de contrariar as pessoas. Muitas vezes, somos injustos com os outros e com nós mesmos simplesmente pelo medo de desagradar. Interessante que os injustos não estão nenhum pouco preocupados em nos desagradar.

É claro que devemos ser agradáveis às pessoas na maioria das vezes. E muito mais agradáveis ainda às pessoas que nos são próximas. Ninguém gosta de conviver com pessoas grosseiras, que vivem a todo momento agredindo com palavras e atitudes. Já vimos na bem-aventurança da mansidão, a necessidade de viver com serenidade e de transmitir serenidade. Mas tudo isso, não pode se dar às custas da injustiça. Não só devemos ser justos, mas também combater a injustiça. Venha de onde vier e de quem vier.

O que nos faz desistir facilmente de lutar pela justiça é o medo de desagradar. E é por causa deste medo que muitas pessoas se aproveitam de nós. Será que é justo sermos ludibriados no ambiente de trabalho e para manter a imagem de bonzinho, ficamos calados? Será que é justo ficarmos calados diante de autoridades corruptas? Será que é justo aceitar um tratamento degradante num hospital? Será que é justo tolerar algum tipo de discriminação, sendo que todos nós temos a mesma dignidade? A lista poderia ser imensa. Mas, todas as posturas de passividade têm a ver com a nossa ilusão de sermos bonzinhos e de sempre deixar pra lá. Deixar pra lá em nome do “amor”, da convivência pacífica, do desconforto de ter que desagradar alguém. Mas, vale a pena?

O que acontece quando enfrentamos a injustiça? A perseguição. A pior de todas é a perseguição física, mas existem também outras igualmente difíceis de suportar. A calúnia, a indiferença, o olhar repreensivo, palavras de condenação. Pensemos nos mártires da fé, nos mártires pela justiça e também no martírio cotidiano de uma mulher que se vê obrigada a viver escondida por ter denunciado um marido violento, em quem perdeu o emprego por não aceitar a injustiça, naqueles que são perseguidos pelos próprios familiares e assim por diante.

A felicidade que Jesus proclama não é pelas perseguições, mas pelo fato da pessoa manter-se íntegra no caminho da justiça. É a felicidade de quem está em paz consigo mesmo e com sua consciência. Se comportar assim não é fácil, mas é muito gratificante.

Talvez você gostaria de estar bem com todas as pessoas do mundo. Mas pense que nem mesmo Cristo viveu assim. Ele encontrou muitas perseguições pelo caminho e perdeu a sua vida por causa de sua mensagem e atitudes. Portanto, respire fundo e abrace a vida com todos os seus desafios e vença todos os seus medos. Procure amar da melhor maneira possível, mas não tenha medo de desagradar.