Texto de P. Alcides Marques, CP
Como seria bom se todas as pessoas concordassem com nossas ideias, com a nossa interpretação da vida e com as nossas possíveis alternativas de solução para os problemas. Mas sabemos que a realidade não é bem assim. Cada pessoa tem uma maneira própria de ver a vida. Algumas vezes existem grandes semelhanças de ideias entre as pessoas. Mas, outras vezes, aparecerão fortes divergências. E aí? O que devemos fazer se a vida é assim. Ficar cada um na sua? Tentar ver quem prevalece sobre quem? Vários caminhos são possíveis.
O primeiro, infelizmente o mais comum, é o de uma pessoa tentar impor suas ideias sobre a (s) outra (s). Esse tipo de postura alimenta o fanatismo. Os fanáticos são escravos de suas próprias ideias, são viciados em suas convicções. Isso mesmo: viciados. E viciados num tipo de vício que pode ser muito mais grave do que os vícios conhecidos. Precisamos tomar cuidado para não sermos vítimas de uma espécie de fanatismo disfarçado, aparentemente mais ameno do que os fanatismos conhecidos.
O segundo caminho é o daqueles que se toleram. Ninguém tenta impor a sua ideia ao outro, pois cada um vive no seu mundo particular. É a chamada convivência pacífica. Essa postura alimenta a indiferença. Algumas pessoas julgam que esse é o melhor caminho para evitar brigas e confusões. Acabam optando por essa solução para que as coisas não fiquem piores do que estão. Mas isso não constrói relacionamentos; e quanto muito gera um ajuntamento de pessoas. Não é a solução.
Mas existe um terceiro caminho: o diálogo. O diálogo pressupõe que nenhuma das partes se julgue dona da verdade e que a verdade das coisas seja entendida como uma busca comum. O diálogo é um ato de amor, já que se trata de valorizar as ideias e valores dos outros. Poderíamos dizer que se trata de amar o outro com sua própria maneira de entender a vida. E isso não implica abdicar das próprias ideias. O objetivo fundamental do diálogo é a busca de um denominador comum, um consenso de base. Três condições são essenciais:
A primeira condição para o diálogo é acreditar no outro. Acreditar em sua sinceridade, acreditar que o outro tem o direito de ter suas ideias, que tem algo a nos ensinar. Para o diálogo frutificar ninguém pode se julgar “superior” a ninguém. O diálogo só existe quando existe o reconhecimento igualdade. Só é possível o diálogo entre iguais.
A segunda condição é a disposição para ceder. Não é possível chegar a um ponto em comum se as partes não são capazes de ceder um milímetro sequer em suas ideias. Trata-se de reconhecer que o amor deve prevalecer. Não é uma questão de um prevalecer sobre o outro, mas do amor sempre prevalecer. Quando o amor prevalece, todos ganham.
A terceira condição é a atitude de suspeita com relação aos próprios pensamentos. É preciso que cada qual diga a si mesmo: é possível que eu esteja enganado. A atitude suspeita é o reconhecimento de que ninguém é dono da verdade. A verdade é sempre maior do que nossas ideias.
O exercício do dialogo supõe um tempo de falar e um tempo de escutar. É preciso que as partes falem e escutem. O tempo da palavra é para falar ao coração do outro. O tempo do silêncio é para escutar com o coração o que o outro tem a dizer.