Texto de P. Alcides Marques, CP
Primeiro desejo do Pai-Nosso: que o Nome do Pai seja santificado. O que quer dizer santificado? Em hebraico, a palavra utilizada para expressar “santo”, kadosh, quer dizer literalmente, “aquele que é separado”. Não separado no sentido de afastado, distante, mas no sentido de ser diferente, outro, único.
Santificar o Nome do Pai significa reconhece-lo como único e incomparável. O desejo é que Deus seja reconhecido como Ele é, como o Absoluto. Que nada ou ninguém, por mais importantes que sejam, possam ocupar o lugar de absoluto em nossa vida. Se você quiser saber quem realmente é o seu Deus, pergunte sinceramente: quem ou o quê ocupa o primeiro lugar em minha vida; quem ou o quê determina todas as minhas decisões e escolhas; quem ou o quê relativiza todo o resto em minha vida? A resposta a estas perguntas indica o “seu” Deus. Caso você consiga responder que é o Deus anunciado como o nosso Pai, então o Nome do Pai está sendo santificado em sua vida.
Para que o Nome do Pai seja santificado o discípulo de Jesus é chamado a não absolutizar mais nada. Nem pessoas, nem pais, nem família, nem idéias, nem sentimentos, nem valores, nem opções políticas, nem religião, nem saúde, nem beleza, nem sonhos, nem bens, nem fama, nem sucesso… Santificar o Nome do Pai é reconhecê-lo como o único absoluto, único mesmo.
Santificar o Nome do Pai implica caminhar na direção de uma vida santa. “Sede santos porque eu sou santo” (Lv 19,2). O problema é que nós temos muitas vezes uma idéia equivocada a respeito de santidade. Na maioria das vezes, a nossa cultura usa a palavra mais para deboche do que para elogio. Quem nunca ouviu: “ela quer fazer o papel de santa!”; “ele pensa que é santo, mas não é!”. Santo aqui tem a ver com uma pessoa que se pretende perfeita, moralmente superiora às outras, boazinha. Já no sentido bíblico de kadosh, separado, santo indica uma pessoa que é única, original. Não tem nada com perfeição. Pois, quanto mais uma pessoa descobrir e expressar o seu ser único, mais santa ela se torna, e mais santificado se torna o nome do Pai. Seja você mesmo e você já é santo. Fácil, não?
Nesse sentido, o nosso nome também deve ser santificado. Não no lugar do Nome do Pai, que é único e absoluto. Mas, no sentido de que devemos ser nós mesmos. A nossa grande missão na vida é ser quem nós realmente somos; desenvolver nosso ser, crescer como pessoa. Nada de querer ser igual às outras pessoas. Nós somos únicos e originais. E é bom que seja sempre assim. É por isso que é tão importante ser reconhecido pelo próprio nome. Aprenda a amar o nome que você recebeu dos seus pais, quem sabe o seu nome aponta para a sua missão de vida! Experimente descobrir o seu significado.
“… Maurício, Lucila, Gildásio, Ivonete, Agripino, Gracinha, Zezé. Gente espelho da vida, doce mistério” (Gente, Caetano Veloso)