Assunção de Maria

Texto de P.Mauro Odorissio, CP

Nossa Senhora elevada ao céu e glorificada! Nossa Senhora da Glória!

Ao adentrarmos em nossas considerações interrogamos academicamente: foi dos Evangelhos que cristãos passaram a venerar Maria, ou foi o culto mariano que levou os Evangelhos a falarem da Virgem? Não seria o Magnificat (Lc 1,46-55) um hino litúrgico mariano que Lucas incorporou em seu escrito? Assim sendo, logo após a morte de Maria os cristãos passaram a cultuá-la.

Em Gl 4,4, Paulo faz uma profunda e respeitosa referência à Virgem: “quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho que nasceu de uma mulher”. A Epístola foi escrita pelos anos 56-57, portanto, antes dos Evangelhos. E o Apóstolo sabia do significado de a “plenitude do tempo”, da importância das mulheres “estéreis” antes dos grandes acontecimentos na história da salvação: Sara (Gn 16,1-2), a mãe de Moisés (Ex 1,15-16), Ana (1Sm 1,5ss), Isabel (Lc 1,7), Maria (Lc 1,34). É possível desvendar, então, no escrito paulino uma pálida referência ao culto mariano.

Entretanto, o primeiro a exaltar a Virgem foi o Eterno Pai que, por meio do seu mensageiro, a chamou de “a cheia de graça”: Lc 1,28. Depois, foi a vez do Espírito Santo quando, pelos lábios de Isabel, a proclamou “bendita entre as mulheres” (Lc 1,42). Nesse contexto se explica a veneração dos primeiros cristãos à Mãe de Deus, àquela por quem nos veio o Verbo feito carne, e a existência de antigos manuscritos apócrifos chamados de assuncionistas. São originários de vários lugares e de épocas distintas. Todos falam da Assunção de Maria. Um bom número chegou a nós. Alguns se remontam ao IV século. Isso demonstra a antiguidade e a permanência do culto mariano.

Segundo eles, os judeus observaram que a Virgem ia sempre ao sepulcro do Jesus para rezar. Numa das vezes o anjo lhe anunciou que brevemente ela partiria para junto do Filho. Em Belém, onde morava, manifestou ao Filho o desejo de ver os apóstolos, antes de morrer. O primeiro a chegar foi João, trazido de Éfeso por uma nuvem. Maria disse-lhe que os judeus haviam jurado que a queimariam, depois de morta, para evitar o boato de que ela ressuscitara e não conhecera a corrupção. Assim, diziam, evitaremos o erro que cometemos com Jesus. Cada apóstolo chegava transportado por nuvens. Os já falecidos foram despertados, em seus túmulos, e avisados de que não se tratava, ainda, da ressurreição final. Seriam levados a Maria que, ao morrer, desejava vê-los.

Entre orações, cada qual dizia onde evangelizava, que fazia, como fora arrebatado a Belém. Maria ouvia e louvava a Deus dizendo: por isso foi dito que todas as gerações me chamariam de bendita. Nisso, entre luzes e cânticos ouvidos por toda Belém, desceu a corte celeste e os santos. Muitos doentes ficaram curados. Furiosos, os sacerdotes judeus enviaram multidões contra Maria e os apóstolos. Mas os enviados ficaram privados da luz e com os pés ligados ao chão. Até os soldados romanos passaram pela mesma humilhação. Arrebatados, a Virgem e os apóstolos foram transportados para Jerusalém. Sabendo de tudo, o povo passou a louvar a Mãe de Deus. Todavia, algumas pessoas ajuntaram lenha para incendiar a casa onde ela estava, mas foram abrasadas por chamas dardejadas por anjos. Com isso, aumentou o número dos crentes.

Todos louvavam a Deus quando Jesus e a corte celeste se unem à comunidade. Maria disse ao Filho: aqui estou Senhor. E, à vista de todos, a sua alma foi arrebatada ao céu. Os apóstolos pediam bênçãos e, entre cânticos, levaram o corpo da Virgem para o túmulo. Um judeu forte, chamado Jefonias agarrou o féretro mas um anjo separou-lhe as mãos dos braços. Arrependido pediu perdão e, por intercessão de Pedro, ele foi curado. Ato contínuo ele se uniu ao grupo dos crentes.

Durante dias, do sepulcro emanavam perfumes e ouviam-se cantos de louvor. Tomé, que chegara atrasado, disse não acreditar no que diziam. Foram todos ao túmulo, abriram-no e estava vazio. Mas, olhando para o alto, viram a Virgem glorificada pela Trindade. Maria, que em sua vida terrena, fora tão agraciada por Deus foi, extraordinariamente, glorificada após a morte.

Os primeiros cristãos cedo descobriram a importância de Maria na história da salvação e passaram a exaltá-la. E, em narração tão singela, deixaram, para nós, o retrato de uma devoção pura e genuína. Que os devotos da Virgem, imitando-lhe as virtudes, sejam um hino de louvor e de agradecimento a quem nós invocamos com o título de Nossa Senhora da Glória.