Texto de P. Alcides Marques, CP
Segundo desejo do Pai-Nosso: que o reino do Pai venha até nós. Podemos entender em duas direções: que Deus reine em nós (dentro de nós) ou que Deus reine entre nós (ao nosso redor). Mas por que desejar que Deus reine em nós ou entre nós? Exatamente porque aquilo ou aquele que reina em nós ou entre nós não nos liberta, mas nos escraviza. O nosso desejo é de que apenas Deus possa reinar.
Quando o Novo Testamento fala em reino (dos céus, de Deus ou simplesmente reino) está se referindo a uma ação, não a um lugar. Desejar o reino do Pai é desejar que todos os nossos sentimentos, ações, sonhos, projetos, sejam impulsionados pela força divina que está em nós. Em outras palavras: que Deus possa agir através de nós.
Vejamos o que pode estar reinando no lugar de Deus. Para alguns, o que reina em suas vidas é o seu passado. São pessoas prisioneiras do passado. De um passado que não é ultrapassado, mas que teima em invadir o presente, fazendo da pessoa uma repetição de si mesma e impedindo o aparecimento do novo. É claro que o passado pode ser uma fonte de excelentes lições de vida, mas ele não pode governar a vida de uma pessoa, reinar sobre ela. Já em outras pessoas o que reina são os desejos de seus pais. Devemos ser eternamente gratos aos nossos pais e reconhecer sempre a importância dos mesmos em nossas vidas, mas não estamos no mundo simplesmente para realizar seus desejos. Nós somos pessoas, sujeitos e não objetos de nossos pais. Cada um de nós precisa um dia encontrar o seu caminho ou, talvez melhor, construir o seu próprio caminho. Outros ainda se deixam guiar pelo medo, pela ambição do poder, pelo prazer desenfreado, por ideologias políticas, pelas expectativas dos outros…
Faça um exercício mental e busque descobrir o que está realmente reinando em sua vida ou o que está tentando reinar em sua vida. Existem pessoas possuídas pelo Mal, mas não existem pessoas possuídas por Deus. Deus é aquele que nos liberta e que nos coloca diante de nós mesmos. Quanto mais Deus reinar, mais seremos nós mesmos. Pensemos na experiência do povo de Israel no Egito: o faraó é aquele que mantém na escravidão e Deus é aquele que liberta da escravidão. “A liberdade é a nossa vocação”, dizia um cântico litúrgico. Precisamos tomar cuidado com os novos faraós. Por isso, venha a nós o VOSSO reino.
O Pai Nosso emprega a palavra venha. De certa forma Deus reina em nossas vidas, mas o desejo é que somente ele reine e reine cada vez mais. Há nesta prece um desejo de realização. Que a semente (do reino) cresça, se desenvolva e dê frutos. Que sejamos libertados do reino da violência, do reino do absurdo, do reino do ódio, da opressão, do reino de todas essas vontades de poder. Que deixemos a condição de escravos para sermos filhos e filhas.
O presente é a única realidade que dispomos, mas não é a última possibilidade. Haja o que houver, aconteça o que acontecer saiba que sempre existirá a possibilidade de algo melhor. E isso porque Deus está presente e agindo. Venha o teu reino! Que venha em nós essa coragem de olhar para frente, de caminhar para frente, de acreditar para além de todos os horizontes, de viver sob a inspiração divina.