Texto de P.Mauro Odorissio, CP
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!”. Eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
…
Eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.
É bom recordar o Poeta que escreveu, antes de nós, o que palpitava em nossos peitos inflamados de “ginasianos”, mas incapazes de explicitar e poetizar como ele o fez. Ele o fez por nós, como que antevendo e pressentindo corações prenhes, mas incapazes de gestar.
Não é por puro saudosismo que retornamos para os tempos de antanho quando éramos sentimentos e sonhos, capazes de entrar num mundo que nossos sentidos eram incapazes de detectar. Mas, sentíamos que ele, embrionariamente, palpitava em nós: sim, o indefinido, o etéreo planeta do amor penetrável apenas pelos corações enamorados.
Isso tudo é evocado porque estamos para iniciar o MÊS DA BÍBLIA: setembro.
Partamos de o princípio lapidar: nosso Deus não é um Deus silente: Ele fala! Falando, quer ser ouvido, pois tem o que dizer e em nosso benefício. Trata-se do Amante à procura do amado.
Ele sempre falou pela voz silenciosa, mas eloquente da natureza: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos. O dia transmite ao outro dia a mensagem e a noite, à outra, conta a notícia. Não é uma fala, nem são palavras, não se escuta a sua voz. Por toda a terra difundiu-se a sua voz e aos confins do mundo chegou a sua palavra ” (Sl 19[18],2-5). É capaz de ouvir a voz divina quem, segundo os incautos, “perdeu o senso”. Ouve a voz divina quem, desimpedido de preconceitos, tem coração adornado de especial acuidade: o de enamorado, aberto às coisas do alto.
Deus fala, ainda, pela voz que S. Tomás de Aquino chamou de sindérese, a voz da consciência que nos aprova, corrige, repreende, estimula, orienta. Necessário se faz calar todo rumor e, em silêncio rico e eloquente, ouvir Deus que fala. É um diálogo personalizado, fecundo: coração a coração enamorados.
Deus fala, ainda, por meio de pessoas dotadas de especiais luzes, e que as irradiam a todas as almas sensíveis e de boa vontade. Isso, em todas as épocas, em todos os quadrantes, em todos os povos.
De modo especial o Senhor escolheu arautos que, no Primeiro Testamento, se tornaram porta voz da mensagem divina. Foram preparando a chegada do Filho, significativamente chamado de Verbo, de Palavra (Jo 1,14). Veio para os que a Ele se abrindo, não nascessem “do sangue, nem da carne, nem do desejo humano, mas, de Deus” (Jo 1,13).
Assim, temos ao nosso alcance a Bíblia Sagrada. É para ser desvendada, sim, pelos estudiosos que muito podem nos auxiliar para que melhor conheçamos o Deus que nos fala. Todavia, a maior sabedoria exigida é a do coração dócil a ouvir. O principal, é que, “se perca o senso” como todo enamorado. O principal é corações sinceros e sequiosos
O Poeta falando das estrelas disse: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e entender estrelas”. Plagiando-o, recomendamos: que aproveitemos toda oportunidade para melhor conhecermos as mensagens bíblicas. E, além desse esforço, que os corações se abram às Escrituras deixando que o Senhor, por meio delas, de coração apaixonado fale a corações enamorados. Que os corações enamorados melhor acolham o Coração Apaixonado.
Que a Bíblia Sagrada jamais seja um livro fechado e esquecido em nossos lares. Seja este o firme propósito a ser assumido neste setembro, o mês da Bíblia. Temos, ao nosso alcance, o Deus que quer sempre dialogar conosco.