Seja feita a Vossa Vontade assim na terra como no céu

Texto de P. Alcides Marques, CP

Terceiro desejo do Pai-Nosso: que o querer de Deus se torne realidade em todos os momentos e lugares. Especialmente na vida de cada um de nós.  E o nosso querer? Se soubéssemos o que realmente queremos no mais íntimo de nós mesmos, não estaríamos longe da Vontade de Deus. Como Deus fala para nós? Como é que vamos saber o que Ele quer de nós? Através da busca daquilo que nós mesmos queremos. Não o nosso querer superficial, mas o nosso querer profundo. É preciso aprender a ir até a profundidade de nosso ser para encontrar aí a Vontade de Deus.

Existe em mim a vontade dos meus instintos, que exige satisfação. Existe também a vontade do meu “eu”, que quer reconhecimento. Existe ainda a vontade dos outros, que nos premiam quando fazemos as suas vontades. Mas o desejo do Pai-Nosso é que seja feita a Vontade de Deus.

A Vontade de Deus é que eu seja cada vez mais quem eu sou: um ser único e irrepetível. Então, será olhando e cuidando do meu próprio ser – destinado a uma missão na vida – que eu irei ao encontro da Vontade de Deus. Precisamos fazer três perguntas que nos darão a mesma resposta: o que a Vida quer de mim? O que o Amor quer de mim? O que o melhor de mim mesmo quer de mim? A resposta sincera a estas perguntas é a Vontade de Deus a meu respeito. Que eu seja cada vez melhor; que faça da vida das pessoas, uma vida melhor; que ajude o mundo a ser melhor; que eu descubra a minha missão de vida neste exato momento. A Vontade de Deus não é arbitrária, pois está escrita na criação e na realidade da vida.

O sofrimento não é Vontade de Deus. Jesus nunca disse que a dor, o sofrimento, a doença, fossem coisas boas. É preciso fazer tudo o que for possível – e até mesmo o que parece impossível – para enfrentar e superar o sofrimento nosso, das pessoas, do mundo. Mas pode chegar um momento em que nada podemos fazer contra o sofrimento. Nesta hora, precisamos recorrer à experiência de Cristo que nunca se transformou em objeto do sofrimento. Aconteça o que acontecer, haja o que houver: devemos permanecer sempre sujeitos. A Vontade de Deus não é o sofrimento, mas que eu nunca me torne objeto do sofrimento. Sempre sujeito, maior do que ele.

A minha vontade humana é que não haja sofrimento, que não haja morte, mas a vida me mostra que o sofrimento existe e que a morte existe. Assim sendo, em lugar de negar, eu quero aceitar – aceitar não é o mesmo que conformar. Se eu nego o sofrimento, ele se torna maior do que eu; mas se eu o aceito, eu me torno maior do que ele. Aliás, como eu posso enfrentar um sofrimento superável, se primeiro eu não o aceito como tal?

A Vontade de Deus, portanto, não é o nosso sofrimento, mas a nossa felicidade. O sinal maior de que estamos fazendo a Vontade de Deus é o prazer de alma que experimentamos ao fazer aquilo que nos é dado fazer. Quando uma coisa é bem feita, existe aí um tipo de prazer que não é um prazer físico ou mental, mas um prazer divino. O desejo de Cristo é o de vivermos na terra, o céu que está em nós. Diminuir a distancia entre as nossas mais nobres intenções e nossas ações mais mesquinhas. Deixar o amor vencer. Deus é Amor (1 Jo 4,8) e todo aquele que ama permanece em Deus, em sua Vontade.