Texto de P. Mauro Odoríssio, CP
15 de Setembro: festa de Nossa Senhora das Dores! A Família Passionista dedica esse mês à Virgem Dolorosa. Acompanham S. Paulo da Cruz que dizia ser impossível contemplar o Crucificado sem ver Maria, com seu coração trespassado ao pé da cruz.
Partindo de passagens evangélicas, cedo as comunidades cristãs começaram a cultuar as dores da Virgem, invocando-a com títulos que evocavam sua vida sofrida. Basta recordar um deles, celebrizado pela conhecida escultura de Michelangelo, La Pietà, esculpida em 1499.
A piedade cristã, ante a fidelidade de Maria ao plano de Deus, séculos antes da celebre escultura, já recitava a Coroa das Sete Dores de Nossa Senhora. Os sofrimentos vividos pela Virgem, narrados pelo Evangelho, eram rezados, meditados, vividos.
Mas, qual a razão para refletir as dores de Maria, para venerar N. Sra. das Dores?
O cristianismo considera as coisas belas e boas como manifestação amorosa de Deus. Mas, só o bom, só o agradável revelam o amor divino? Só eles fazem parte do projeto salvífico de Deus? O sofrimento não? Afinal, ele é inerente ao ser humano. Além disso, a redenção da humanidade se fundamenta na cruz assumida pelo Crucificado. E ante as pretensões, quer dos pagãos, quer dos judeus, que exigiam sabedoria e portento, respectivamente, Paulo pregava o Crucificado, escândalo para estes e loucura para aqueles. Para o Apóstolo, porém, Ele era a sabedoria de Deus (1Cor 1,18-25). Isso tudo levou S. Paulo da Cruz a afirmar que o Crucificado é a maior manifestação do amor divino por nós. Trata-se da chamada ciência da cruz, da estaurologia.
Longe de nós canonizar o sofrimento como tal. Mas, longe de nós, também, ignorá-lo como recurso salvífico. De pronto, então (tanto que permanecemos no mesmo parágrafo), afirmados: é digno de encômios, o sofrimento e a morte fecundos, os que geram vida. Como o grão de trigo que, lançado na terra “morre” para que dessa morte se origine a planta e, dela, a espiga da qual vem o pão, a vida, a felicidade (Jo 12,24).
Seria o sofrimento um contrasenso? Um “non senso”? Seja como for, ele não pode ser estranho à noética, à epistemologia, ao conhecimento, de modo geral. Muito menos à fé.
Há pouco mais de dois anos fomos solicitados a escrever “algo diferente” sobre N. Senhora das Dores. Um período de relativa calmaria nos auxiliou e, em pouco tempo, foi publicado “As Dores de Maria e as Marias das dores”. Não nos detivemos nas tradicionais Sete Dores de Maria. Elencamos trinta e oito; e poderíamos ter ido além. Mistérios marianos meditados, comumente, como gozosos nós o lemos à ótica passiológica, à luz da Paixão. Acreditamos que não exageramos ao percorrer esse caminho, pois é relativamente fácil acompanhar a vida mariana e nela descobrir, não tanto a sequência de sofrimentos como a constância nele. E destacamos: foram sofrimentos fecundos que geraram vida e mais, fruto da fidelidade da Virgem ao projeto divino.
Exemplificando: a Anunciação (Lc 1,26-38), tradicionalmente meditada como mistério gozoso, à luz das Escrituras nós o consideramos como uma das dores de Maria. Na ocasião, não havia alternativa à Virgem: ou dizer SIM ou NÃO ao projeto divino. Omitindo-se, ela estaria truncando o processo redentor do Pai. Dizendo SIM, como ela o fez, corria a probabilidade de morrer apedrejada, conforme preceituava a lei (Dt 22,23-24). E ela disse, ou mais que isso, ela foi SIM ao plano de Deus. Com isso, o Verbo se fez carne entre nós, e o projeto redentor foi tendo continuidade. Dessa maneira ela foi, crescentemente, se transformandoem Nossa Senhoradas Dores, assumindo sempre e cada vez mais o sofrimento fecundo em prol da humanidade.
Maria, Mãe das Dores, é um estímulo, uma luz para que seus filhos, como ela se tornem generosos, arrostando dificuldades e sofrimentos fecundos, os que trazem, em seu bojo a redenção, a verdadeira libertação de tudo e de todos, os portadores do Verbo feito carne.
Mais, ainda: que a devoção às dores de Maria leve todos os seus filhos a descobrirem tantas Marias das dores que carregam as mais diversificas cruzes. Que elas encontrem nos devotos de Nossa Senhora das Dores, apoio, solidariedade, colaboração.
Que o mês dedicado à Virgem Dolorosa marque todos os corações marianos.