Epístola aos Efésios

Texto de P. Mauro Odorissio,CP

A liturgia eucarística apresenta, no final de outubro, a oportunidade de se refletir umas passagens da Epístola aos Efésios. É importante que os textos bíblicos oferecidos à reflexão sejam colocados no contexto do Livro, embora não seja fácil nele descobrir o filão lógico. Assim mesmo se nota uma visão eclesial a impregnar o escrito.

Refletindo a natureza da Igreja, o Autor da referida Epístola coloca Cristo como o ponto referencial de tudo. Nele, antes da criação do mundo, todos os seus membros foram escolhidos, pelo Pai; receberam, de antemão, a finalidade de serem santos, sem defeito, e de se transformarem em filhos adotivos de Deus (Ef 1,4-5). Trata-se de uma visão protológica, a que antecede a existência do que quer que seja. A partir dessa visão, as coisas passam a acontecer.

Embora rica de per si, a Igreja mais se aprimora pela visão escatológica. É a que explica a sua finalidade última, quando atinge a sua plenitude, a sua perfectibilidade final. Fala-se, então, de sua razão de ser: “… para, na plenitude do tempo, recapitular, em Cristo, tudo o que existe no céu e na terra” (Ef 1,10). A escatologia é, portanto, a consumação da história da salvação.

A Igreja foi, então, planejada, em Cristo, antes da criação do mundo, na protologia. Em Cristo ela atingirá a sua razão de ser, na eternidade, na plenitude definitiva do tempo, na escatologia. Entre esses dois marcos extremos (protologia e escatologia) está a história da salvação: é o período apocalíptico quando a Igreja caminha neste mundo, em Cristo, com Cristo e para Cristo. Para isso Ele prometeu estar sempre com ela até a consumação do tempo (Mt 28,20).

A Igreja, projetada em Cristo antes do tempo, conta agora, na peregrinação terrena, com o acompanhamento constante e eficaz do Senhor, até ser plenificada na consumação da história,. Por isso e para isso, os discípulos foram marcados pelo Espírito Santo, penhor da herança eterna (Ef 1,13-14). Isso é uma garantia de suma importância. Para tanto o Senhor prometeu que eles não ficariam sós ou órfãos (Jo 14,18).

A Igreja, conhecida como a peregrina, a que palmilha pelas estradas do mundo rumo ao céu, é constituída de judeus, os que trazem a marca da circuncisão em seus corpos, e dos pagãos, dos que não estavam assim assinalados na carne. Ambos os povos estavam distantes de Cristo e, por acréscimo, divididos entre si. Pelo sangue do Cordeiro, o muro separatório existente entre eles foi derribado para que, entre todos, fosse formasse um único povo (Ef 2,11). Consequentemente, todos os privilégios que foram dados, anteriormente, aos judeus, são outorgados a todos os povos e em vista da formação de um único povo, Todos são igualmente beneficiários das promessas de Cristo (Ef 3,1-13).

Ao serem formados como único povo, judeus e pagãos devem se deixar impregnar pelo amor de Cristo que os levará a serem por Ele inabitados, tornando-se moradia do Senhor, a conhecerem a altura, a largura e a profundidade do amor divino (Ef 3,14-21).

A riqueza dessa inabitação os faz terem uma vida nova. Na medida em que o homem velho é despojado, veste-se o novo, criado à imagem de Deus, na verdadeira justiça e santidade (Ef 4,17-25). Trata-se de uma nova criação. Da nova criatura é de se esperar frutos novos.

O Escritor sagrado não ignora que tanto os judeus como os pagãos trazem suas marcas culturais nem sempre facilmente superadas. Insiste, então, para que as diversidades sejam superadas pela unidade, pelo espírito de comunhão que caracteriza a Igreja. Recomenda: “… suportem-se uns aos outros. Mantenham os laços da paz para conservarem a unidade do Espírito”. Como há um só Deus Pai de todos, acrescenta, que haja um só corpo eclesial (Ef  4,2-6).

O amor que plenifica a comunidade como um todo e que vivifica cada membro comunitário, deve ser como o de Cristo que se entregou para a redenção universal. Só assim a Igreja e cada um de seus membros viverão sensata e santamente.

Os conselhos e orientações dados à comunidade efesina de então, são válidos e atuais para os de hoje e os de sempre. Que eles sejam, agora, acolhidos e concretizados para a maior glória de Deus e para o bem de todos.