Por P. Alcides Marques, CP
É o sétimo desejo do Pai-Nosso. Não se trata do mal enquanto realidade abstrata, mas do mal real, concreto. A tradução mais literal do grego seria “livrai-nos do perverso”. Liberta-nos das pessoas dominadas pela perversidade e do espírito de perversidade que pode nos dominar.
O perverso é alguém extremamente perigoso. É aquele que semeia a discórdia nas relações humanas. Ele distorce pra pior a reputação, a honra e a dignidade das pessoas. Gosta do pior. O perverso sempre dará um jeito para nos destruir; para nos fazer duvidar de nós mesmos e dará um jeito de destruir o amor que temos para com as pessoas. Diante do perverso, vai sempre aflorar o que de pior temos dentro de nós.
É aconselhável fugir da companhia do perverso. Estar com ele o mínimo necessário. Ou, pelo menos, não deixar que ele faça companhia ao nosso coração, aos nossos pensamentos e sentimentos mais belos. O perigo do perverso é ele nos fazer dependentes dele. Não podemos ser ingênuos, acreditar que todo mundo tem os melhores sentimentos. Precisamos ficar vigilantes. O perverso pode estar bem perto de nós, procurando nos envenenar.
Podem também existir interpretações perversas da Sagrada Escritura e uma utilização perversa da religião. Alguns podem se servir de Deus para envenenar a nossa vida e o que temos de melhor. É preciso estar atentos a esta perversão do religioso. Foi em nome de Deus que foram cometidos os crimes mais bárbaros da história da humanidade.
Outro nome para o perverso é o Acusador. O apocalipse o identifica com o diabo: “foi expulso o acusador de nossos irmãos” (Ap 12,10). O acusador é aquele que vive dia e noite acusando os nossos irmãos e irmãos. O acusador é aquele que vive apontando os defeitos dos outros, condenando os outros. É preciso haver sempre um culpado.
Há uma melhora extraordinária na qualidade de nossas vidas quando deixamos de acusar os outros e de acusar a nós mesmos. Aliás, esta necessidade doentia de acusar os outros brota de nossa não aceitação de nós mesmos. Alguns de nós passamos a vida culpando os outros pela nossa pretensa infelicidade. É claro que, por exemplo, nossos pais, nossa primeira infância, a sociedade podem ser a causa maior de certas dificuldades que encontramos. Mas a energia que gastamos para acusar poderia ser mais bem utilizada na busca de superação de nossos limites, na busca de se fazer algo melhor.
É este o desejo do Pai-Nosso. Estar livre da perversidade em nosso interior. Estar livre desse “espírito” que de modo misterioso procura sempre o pior. Que arranja um jeito de transformar as coisas mais belas nas mais repugnantes.