Por P. Mauro Odorissio, CP
Somos os primeiros a estranhar o título que acabamos de dar às nossas considerações. Não seria uma tautologia, uma repetição que nada acrescenta? Não caímos numa intolerável mesmice? Adjetivar um substantivo com ele mento, adjetivá-lo com sua raiz semântica não seria negar a especificidade do adjetivo: modificar o substantivo? Não seria isso o máximo da redundância?
Assim mesmo o fazemos para questionar. Queremos dizer que “Advento” deve ser refletido, assumido e vivenciado. Ao contrário, seria estaticamente e puro ritualismo estéril.
É truísmo afirmar que “advento” significa “chegada”. Chegada de quem já veio há mais de dois mil anos? Chegada de quem está no meio de nós (Mt 28,20), para não dizer em nós (Jo 15,1-6? Mas, teria Jesus, realmente, chegado “e ficado” no profundo dos corações, no seio das famílias, no âmago da sociedade humana, no mundo?
Então, falamos em “chegada” que não é detectável apenas pelos nossos sentidos, pelo calendário, pelo relógio. Trata-se de um chegada dinâmica, permanente, crescente, “chegada chegante”, “Advento adventício”.
Para que reflitamos esse mistério mais aprofundadamente a Igreja nos propõe o tempo forte que antecede o Natal, tempo que não pode ser estrangulado por um liturgicismo estéril, sufocante.
No 1º Domingo do Advento, na 2ª leitura da Missa, somos convidados a refletir 1Tes 3,12-4,2: “Que o Senhor os faça crescer e aumentar no amor mútuo para com todos, da mesma maneira como é o nosso amor para com vocês, para que os corações de todos permaneçam firmes e irrepreensíveis na santidade diante de Deus, nosso Pai, por ocasião da vinda de Nosso Senhor Jesus com todos os seus santos. De resto, irmãos, suplicamos ardentemente ao Senhor Jesus: vocês aprenderam de nós como comportar-se para agradar a Deus. Vocês já se comportam, assim. Continuem progredindo”.
O texto, mesmo profundo, é límpido, não é um desafio à compreensão, embora o seja na sua vivência. E está perfeitamente adaptado ao tempo litúrgico que vivemos. Em poucas palavras, afirma: o Jesus que já veio há muito tempo, mais se faça presente e atuante, na medida em que vivermos dois pontos fundamentais:
O primeiro, é que a vida comunitária seja impregnada pelo amor fraterno, amor crescente. Não se trata de qualquer amor, mas o deixado pelo Senhor. Antes de regressar ao Pai, Ele o recomendou. Por meio dele os discípulos seriam reconhecidos tais: na medida em que vivessem em plenitude o amor (Jo 13,35). Então, ele é específico, tem um modelo, tem um parâmetro. Deve ser como o de Cristo em favor dos seus (Jo 15,12). Para que não pairasse dúvida sobre a sua natureza e amplidão, acrescentou: “Não existe maior amor do que dar a vida por quem se ama ” (Jo 15,13).
É nesse espírito que a liturgia do 1º Domingo do Advento de 2012 recomenda o amor mútuo no seio da comunidade. Ele amalgama e transforma um possível ajuntamento de pessoasem comunidade. Osmembros se vinculam entre si e todos, com Cristo, cabeça do Corpo Místico.
Esse amor deve, em segundo lugar, abrir-se “para com todos”. Numa palavra, transformar os discípulos em agentes amorosos num mundo que inflaciona a palavra “amor”, mas que, na verdade é dele tão carente. Assumindo integralmente essa vida e missão no próprio ambiente, eles estariam dispensados de outras obrigações. Seriam autênticos discípulos do Mestre. O restante, seria decorrência do amor fundamental e generoso.
Com isso a celebração do Advento se torna fecunda. E ele, dinâmico, crescente, contínuo. Torna-se o Advento adventício: “para que os corações de todos permaneçam firmes e irrepreensíveis na santidade diante de Deus, nosso Pai, por ocasião da vinda de Nosso Senhor Jesus”.
Que o Advento 2012 propicie a todos um Natal concreto, rico e santo. Que o Menino Jesus continue acontecendo sempre e cada vez mais.