Estamos no Ano da Fé – I

Por P. Alcides Marques, CP
Comentários do Motu Proprio Porta Fidei

A expressão latina “motu proprio” quer dizer “de própria iniciativa”. O papa escreve, algumas vezes, de própria iniciativa, textos que julga de fundamental importância para a vida e missão da Igreja. No dia 11 de outubro de 2012, Bento XVI fez publicar um com o título “Porta Fidei” (Porta da Fé). Na ocasião, foi proclamado o Ano da Fé, que vai de 11 de outubro de 2012 até 24 de novembro de 2013. Por que 2012? Porque neste ano comemoraram-se os 50 anos do Concílio Vaticano II (1962-1965). Por que precisamente 11 de outubro? Porque na data comemoraram-se os 20 anos de promulgação do Catecismo da Igreja Católica. Por que 24 de novembro de 2013? Porque é o domingo de Cristo Rei, último domingo do ano litúrgico.

Estamos, portanto, vivendo em pleno ano da fé. O que significa? O que exige de cada um de nós? Estamos de fato conscientes de sua importância? Estamos preparados a percorrer o caminho proposto? Abaixo, faremos um breve comentário dos pontos essenciais do texto do Papa.

“1. A PORTA DA FÉ (cf. At 14, 27), que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós. É possível cruzar este limiar, quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça que transforma. Atravessar esta porta implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira”. A expressão porta da fé indica que a fé deve se constituir não tanto como um ato de inteligência, mas como uma experiência de vida. Entrar pela porta da fé é fazer a experiência de deixar que a fé em Jesus Cristo marque a nossa vida em todas as dimensões. A porta de fé nunca se fecha, está sempre aberta.

“2. Desde o princípio do meu ministério como Sucessor de Pedro, lembrei a necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo. Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária. Ora, tal pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado”. O papa fala em redescobrir o caminho da fé, entender a fé como uma caminhada de vida. Fala também em alegria e entusiasmo. A fé deve gerar alegria e entusiasmo por viver. Existe aqui um alerta: muitas vezes, nós nos preocupamos mais com as consequências da nossa fé e quase nada com a fé mesma. Ou seja, estamos sendo chamados a olhar para as raízes da nossa fé. E estas raízes podem ser entendidas como um deixar-se plasmar pela graça que transforma. O ano da fé não pode ser confundido com eventos (missões, retiros, celebrações, etc.) ou símbolos (cartazes, cânticos, etc.). É claro que tudo isso é e será importante. Mas o essencial mesmo é renovar em cada cristão a experiência de presença de Cristo em sua vida, uma presença que liberta e que impulsiona à prática do amor-serviço em todas as situações da vida.

“3. Não podemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique escondida (cf. Mt 5, 13-16). Também o homem contemporâneo pode sentir de novo a necessidade de ir como a samaritana ao poço, para ouvir Jesus que convida a crer n’Ele e a beber na sua fonte, donde jorra água viva (cf. Jo 4, 14). Devemos readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus, transmitida fielmente pela Igreja, e do Pão da vida, oferecidos como sustento de quantos são seus discípulos (cf. Jo 6, 51)”. A Palavra e Eucaristia são citadas como os pontos centrais a serem vivenciados. A escuta da Palavra e a recepção da Eucaristia são os caminhos essenciais a serem percorridos. Precisamos ir além do devocionalismo formal, em busca da experiência de Deus.

“4. À luz de tudo isto, decidi proclamar um Ano da Fé. Este terá início a 11 de Outubro de 2012, no cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, e terminará na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, a 24 de Novembro de 2013. (11 de outubro – 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica). Não é a primeira vez que a Igreja é chamada a celebrar um Ano da Fé. O meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, proclamou um ano semelhante, em 1967, para comemorar o martírio dos apóstolos Pedro e Paulo no décimo nono centenário do seu supremo testemunho”. O ano da fé foi impulsionado pela comemoração dos cinquenta anos do Concílio vaticano II. Por isso, precisamos voltar aos grandes documentos do Concílio, trazê-los à tona. Não deixar que a renovação do Concílio seja bloqueada pelo medo. Todos nós deveríamos ter em mãos e ler frequentemente os documentos do Concílio, estudar em comunidade os documentos essenciais do Concílio. O Catecismo da Igreja Católica deve ser compreendido como a tradução do espírito do Concílio.