Estamos no Ano da Fé – II

Por P. Alcides Marques, CP
Comentários do Motu Proprio Porta Fidei

“5. Pareceu-me que fazer coincidir o início do Ano da Fé com o cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II poderia ser uma ocasião propícia para compreender que os textos deixados em herança pelos Padres Conciliares, segundo as palavras do Beato João Paulo II, ‘não perdem o seu valor nem a sua beleza. É necessário fazê-los ler de forma tal que possam ser conhecidos e assimilados como textos qualificados e normativos do Magistério, no âmbito da Tradição da Igreja’”.  Mais uma vez fica claro que o Ano da Fé está diretamente ligado aos documentos conciliares. E isto é muito bom. A Igreja, diante dos desafios do mundo de hoje, não pode deixar-se levar pela tentação de andar para trás. O s documentos do Concílio seguramente nos farão olhar para frente e andar para frente. Não podemos ter medo dos desafios. Devemos enfrenta-los. Precisamos conhecer os documentos conciliares, colocar em prática as ideias principais que os mesmos sugerem.

“6. A renovação da Igreja realiza-se também através do testemunho prestado pela vida dos fieis: de fato, os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou. Nesta perspectiva, o Ano da Fé é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. No mistério da sua morte e ressurreição, Deus revelou plenamente o Amor que salva e chama os homens à conversão de vida por meio da remissão dos pecados (cf. At 5, 31)”.  O papa chama a atenção para um detalhe: a Igreja não vai mudar se não houver uma mudança na qualidade do testemunho cristão. A Palavra da verdade deve ser proclamada com a nossa vida. Afinal, somos redimidos pelo Amor de Deus.

“7. Por isso, também hoje é necessário um empenho eclesial mais convicto a favor duma nova evangelização, para descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé. (…) Por conseguinte, só acreditando é que a fé cresce e se revigora; não há outra possibilidade de adquirir certeza sobre a própria vida, senão abandonar-se progressivamente nas mãos de um amor que se experimenta cada vez maior porque tem a sua origem em Deus”. A fé é aqui entendida não como uma simples adesão a fórmulas preestabelecidas, mas como uma experiência de vida. A fé é busca, é caminhada, entrega. A fé é o horizonte que marca todas as nossas experiências de vida. É nesse sentido que devemos entender a alegria de crer e o entusiasmo de comunicar a fé.

“8. Queremos celebrar este Ano de forma digna e fecunda. Deverá intensificar-se a reflexão sobre a fé (…). Teremos oportunidade de confessar a fé no Senhor Ressuscitado nas nossas catedrais e nas igrejas do mundo inteiro, nas nossas casas e no meio das nossas famílias, para que cada um sinta fortemente a exigência de conhecer melhor e de transmitir às gerações futuras a fé de sempre. Neste Ano, tanto as comunidades religiosas como as comunidades paroquiais e todas as realidades eclesiais, antigas e novas, encontrarão forma de fazer publicamente profissão do Credo”. A oração do Creio, Profissão de fé, deve ser feita com mais convicção e contundência. O Creio precisa ser estudado; nós, católicos, precisamos ter bem claro em que consiste a nossa fé, o que é essencial e o que é secundário.

“9. Desejamos que este Ano suscite, em cada fiel, o anseio de confessar a fé plenamente e com renovada convicção, com confiança e esperança. Será uma ocasião propícia também para intensificar a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia (…). Descobrir novamente os conteúdos da fé professada, celebrada, vivida e rezada e refletir sobre o próprio ato com que se crê, é um compromisso que cada fiel deve assumir, sobretudo neste Ano.” Cada fiel é convocado a assumir a sua missão de evangelizar e de se deixar evangelizar. A celebração não deve ser um devocionalismo, do tipo rezar por rezar, mas um aspecto da própria experiência de fé. Somos cristãos, não “viciados em Igreja”. Cuidado porque a prática religiosa pode ser um vício a mais em nossas vidas, algo que não diferencia das outras pessoas.