Estamos no Ano da Fé – III

Por P. Alcides Marques, CP
Comentários do Motu Proprio Porta Fidei

“10. Queria agora delinear um percurso que ajude a compreender de maneira mais profunda os conteúdos da fé e, juntamente com eles, também o ato pelo qual decidimos, com plena liberdade, entregar-nos totalmente a Deus (…).  A este respeito é muito eloquente o exemplo de Lídia. Narra São Lucas que o apóstolo Paulo, encontrando-se em Filipos, num sábado foi anunciar o Evangelho a algumas mulheres; entre elas, estava Lídia. O Senhor abriu-lhe o coração para aderir ao que Paulo dizia (At 16, 14). O sentido contido na expressão é importante. São Lucas ensina que o conhecimento dos conteúdos que se deve acreditar não é suficiente, se depois o coração – autêntico sacrário da pessoa – não for aberto pela graça, que consente ter olhos para ver em profundidade e compreender que o que foi anunciado é a Palavra de Deus”. A fé não é só adesão a um conteúdo (Profissão de fé, por exemplo), mas uma experiência de vida (crer com o coração). É preciso manter estes dois polos da fé: crer com a inteligência (fé como adesão a determinadas verdades) e crer com o coração (fé como entrega da vida).

“11. Para chegar a um conhecimento sistemático da fé, todos podem encontrar um subsídio precioso e indispensável no Catecismo da Igreja Católica. Este constitui um dos frutos mais importantes do Concílio Vaticano II. (…) É precisamente nesta linha que o Ano da Fé deverá exprimir um esforço generalizado em prol da redescoberta e do estudo dos conteúdos fundamentais da fé, que têm no Catecismo da Igreja Católica a sua síntese sistemática e orgânica. Nele, de fato, sobressai a riqueza de doutrina que a Igreja acolheu, guardou e ofereceu durante os seus dois mil anos de história”.  O Novo Catecismo pretende ser uma expressão da novidade do Concílio Vaticano II: ele mantem todas as riquezas (testemunho, história, doutrina etc.) do passado, mas deve incorporar também as riquezas do tempo presente.

“12. Assim, no Ano em questão, o Catecismo da Igreja Católica poderá ser um verdadeiro instrumento de apoio da fé, sobretudo para quantos têm a peito a formação dos cristãos, tão determinante no nosso contexto cultural (…).  De fato, em nossos dias mais do que no passado, a fé vê-se sujeita a uma série de interrogativos, que provêm duma diversa mentalidade que, hoje de uma forma particular, reduz o âmbito das certezas racionais ao das conquistas científicas e tecnológicas. Mas, a Igreja nunca teve medo de mostrar que não é possível haver qualquer conflito entre fé e ciência autêntica, porque ambas, embora por caminhos diferentes, tendem para a verdade”. O Novo Catecismo deve ser visto como um instrumento de apoio a vida de fé. O mais importante é a fé. Não há oposição entre ciência e fé, embora uma não se reduza à outra. A ciência não pode invadir o espaço da fé e a fé não pode invadir o espaço da ciência.

“13. Será decisivo repassar, durante este Ano, a história da nossa fé, que faz ver o mistério insondável da santidade entrelaçada com o pecado. Enquanto a primeira põe em evidência a grande contribuição que homens e mulheres prestaram para o crescimento e o progresso da comunidade com o testemunho da sua vida, o segundo deve provocar em todos uma sincera e contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai, que vem ao encontro de todos”. Realçar a história dos nossos antepassados na fé, desde os patriarcas. Não esquecer o papel fundamental de Maria e dos Santos em geral. Nós temos uma história e não devemos ter medo dela. Não ter medo inclusive de reconhecer as falhas.