Por P. Alcides Marques, CP
Comentários do Motu Proprio Porta Fidei (última parte)
“14. O Ano da Fé será uma ocasião propícia também para intensificar o testemunho da caridade. Recorda São Paulo: «Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade» (1 Cor 13, 13). Com palavras ainda mais incisivas – que não cessam de empenhar os cristãos –, afirmava o apóstolo Tiago: «De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? … (Tg 2, 14-18). (…) De fato, não poucos cristãos dedicam amorosamente a sua vida a quem vive sozinho, marginalizado ou excluído, considerando-o como o primeiro a quem atender e o mais importante a socorrer, porque é precisamente nele que se espelha o próprio rosto de Cristo. Em virtude da fé, podemos reconhecer naqueles que pedem o nosso amor o rosto do Senhor ressuscitado”.
Reflexão: A palavra caridade talvez não expresse a riqueza da proposta cristã, soa meio assistencialista. A palavra amor, por outro lado, adquiriu um significado sentimentalista, o que também dificulta a sua compreensão no sentido cristão. Por isso, seria melhor falar em amor-serviço, solidariedade, cuidado, palavras que sugerem ações concretas em prol do outro. O papa destaca que no cristianismo não pode haver separação entre fé e amor (serviço). A fé precisa do amor para a garantia de sua autenticidade. O amor precisa da fé para que não se transforme num egoísmo disfarçado; a fé purifica o amor.
“15. Já no termo da sua vida, o apóstolo Paulo pede ao discípulo Timóteo que «procure a fé» (cf. 2 Tm 2, 22) com a mesma constância de quando era novo (cf. 2 Tm 3, 15). Sintamos este convite dirigido a cada um de nós, para que ninguém se torne indolente na fé. Esta é companheira de vida, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza por nós. Solícita a identificar os sinais dos tempos no hoje da história, a fé obriga cada um de nós a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo. (…) A vida dos cristãos conhece a experiência da alegria e a do sofrimento. Quantos Santos viveram na solidão! Quantos fiéis, mesmo em nossos dias, provados pelo silêncio de Deus, cuja voz consoladora queriam ouvir! As provas da vida, ao mesmo tempo que permitem compreender o mistério da Cruz e participar nos sofrimentos de Cristo (cf. Cl 1, 24) , são prelúdio da alegria e da esperança a que a fé conduz: «Quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12, 10). Com firme certeza, acreditamos que o Senhor Jesus derrotou o mal e a morte. Com esta confiança segura, confiamo-nos a Ele: Ele, presente no meio de nós, vence o poder do maligno (cf. Lc 11, 20); e a Igreja, comunidade visível da sua misericórdia, permanece n’Ele como sinal da reconciliação definitiva com o Pai”.
Reflexão: Vamos incorporar em nossos sentimentos está afirmação: a fé é nossa companheira de vida! Somos chamados a renovar constantemente o nosso olhar para perceber os sinais da presença de Deus na vida, os sinais dos tempos. Somos chamados também a acolher a felicidade e o sofrimento que a vida nos impõe. Quando a vida tem sentido, é possível vive-la com dignidade em qualquer situação. Para nós, cristãos, o sentido vem de nossa experiência do amor de Jesus Cristo.