O papa não é pop: é bispo!

Texto de P. Alcides Marques, CP

Na quarta-feira, dia 13 de março, fomos mais uma vez surpreendidos pelos acontecimentos. Digo mais uma vez, porque no dia 11 de fevereiro, Bento XVI apresentou sua renúncia. Digo surpreendidos, porque o papa escolhido não era o esperado, é da América Latina, é jesuíta, e é o primeiro papa com o nome de Francisco. O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio foi eleito papa.

Por ocasião da renúncia de Bento XVI, dizíamos que a Igreja precisava urgentemente de uma reforma em suas estruturas internas e de uma atualização de sua mensagem, tendo em vista que estamos num tempo de fortes mudanças. É claro que, com isso, não estamos nos alinhando com aqueles que pretendem uma dita modernização da Igreja. A função da Igreja é anunciar a mensagem de Jesus Cristo e não de viver preocupada em agradar aos esquemas dominantes deste mundo. Temos princípios e valores que não podem ser negociados, pois tal postura seria uma traição ao espírito do evangelho. Mas precisamos escutar (e também falar para) o mundo para discernir quais tendências e conquistas sociais poderíamos acolher em nossas considerações cristãs. O papa Francisco fala que precisamos caminhar sempre, nunca ficar parados. Quem sabe ele não está sinalizando que a Igreja precisa de mudar para exatamente ser mais fiel ao evangelho!

Um dado bastante interessante é que ele se apresenta como bispo de Roma. O papa evita aplicar a si mesmo tal título – de papa – que o diferencia dos demais. Ele prefere ser chamado de bispo. Muitos católicos imaginam que a Igreja funciona como uma multinacional que tem a sua matriz e filiais pelo mundo inteiro. Mas a Igreja católica romana não deve ser entendida deste jeito, mas como uma comunhão de igrejas e a igreja de Roma é o polo que unifica todas as outras. Por exemplo, a igreja (no sentido de diocese) de São Carlos não é uma filial, mas uma igreja irmã da igreja de Roma; e isso acontece com todas as outras dioceses. O que diferencia a igreja de Roma é que ela é a responsável pela unidade, não só das pessoas, mas também dos princípios de fé, dos valores, da prática sacramental etc. O bispo de Roma é tão bispo como o bispo de São Carlos. O que o torna especial (papa) é o fato dele ser bispo na igreja de Roma. Esse tipo de ênfase do papa Francisco estaria indicando que ele não pensa a Igreja somente a partir do pensamento daqueles que vivem em Roma, mas a partir do pensamento de todas as igrejas (que estão em comunhão com Roma).

No dia do anúncio de sua eleição, ele solicitou que antes dele dar a bênção, o povo o abençoasse (e abaixou a cabeça). Isso não é uma busca de ser popular, mas reflete uma concepção de igreja do concílio Vaticano II: o povo de Deus vem antes dos seus pastores. Existe uma quebra: de um modelo de igreja clerical para um modelo de igreja de irmãos e irmãs.

A sua simplicidade tem chamado a atenção de todo mundo. Quem não se encanta com uma pessoa que não fica cultivando superioridade diante dos outros, mas, ao contrário, busca sempre ressaltar a igualdade. Ele pagaria a conta no hotel se não fosse papa? Então por que não pagar agora? Ele voltaria em algum carro especial se não fosse papa? Por que voltar em carro especial agora? E por aí em diante. Francisco tem um estilo de vida que vale a pena cada um de nós pensar em aprender um pouco. Ser simples. Simples como Jesus, como São Francisco de Assis.

Tenho as melhores das expectativas em relação ao novo Papa e quem sabe não estaríamos no caminho de algumas mudanças. Que o Espirito Santo o ilumine. E também nos ilumine para sermos obedientes àquilo que o Espírito Santo está nos dizendo através dele. Viva o papa! O papa não é pop: é bispo de Roma simplesmente.