Texto de P. Alcides Marques, CP
Parece que estamos tão acostumados a viver em uma sociedade que classifica pessoas em termos de melhores e piores, que não nos passa pela cabeça que a vida poderia ser diferente. Ouso dizer que seria bem melhor se fosse diferente. A vida é breve, meu irmão e minha irmã, para você perder tempo na busca desenfreada de mostrar que é o maior ou a maior. Saiba de uma coisa: você não precisa de nada disso para ser feliz. Não precisa ser melhor do que ninguém. Basta ser você mesmo, realizar a sua missão de vida sem se preocupar com uma pretensa superioridade que você não tem. Convença-se disso: você não é melhor nem pior do que ninguém. Você é você e pronto!
Desde pequenos somos programados a não viver, ou seja, a nos iludir e iludir uns aos outros. Algumas mães são pródigas em propagar que seu filho é o melhor aluno da classe. Para quê isso? Para alimentar a inveja das outras? As nossas rodas de conversa giram em torno do novo título conquistado, de alguém que vai fazer doutorado nos Estados Unidos, do novo modelo de carro que se pretende comprar, de aquisição de uma nova casa, de viagens internacionais e assim por diante. Parece que temos uma sede doentia de viver propagando e cultivando falas que nos engrandecem ou que engradecem os “nossos”. Poucas vezes, ou quase nunca, conversamos em torno de valores, de religião, de compromisso social, de solidariedade humana, da necessidade de perdoar alguém, da urgência de se visitar quem está enfermo. Progressivamente estamos perdendo o senso de coletividade e caindo numa espécie de individualismo coletivo. Cada um tentando parecer melhor do que o outro. E o pior é que fingimos estar indignados com um mundo onde ninguém respeita ninguém. A violência crescente é alimentada (também) por esse tipo de mentalidade. O que importa sou eu, eu e eu; sempre eu.
É claro que ninguém deve viver acomodado, parado, sem iniciativa. Crescer é uma necessidade de vida. Se para você, por exemplo, fazer um doutorado vai ajudar na sua missão de vida, não tenha medo de fazer. Mas não faça disso um meio de se engrandecer diante dos outros. É apenas um instrumento para o seu crescimento pessoal. E isso vale para tudo na vida. Seja cada dia melhor do que você foi ontem. Não para se comparar com ninguém, mas para desenvolver o seu potencial da melhor maneira possível.
“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável, perfeito” (Rom 12,2). Este conselho de São Paulo apóstolo ainda é muito atual. O cristão não deve viver isolado do mundo, mas deve ter consciência que é chamado a ser sal e fermento. Deve compreender que está no mundo para uma missão de vida. Essa história de que devemos ser igual a todo mundo, viver como robôs, ser da moda, não tem nada a ver com o nosso seguimento de Jesus Cristo. Nós temos a obrigação de viver uma vida diferente e de oferecer às pessoas uma alternativa de vida. Fala-se muito hoje em felicidade, mas parece que felicidade se confunde com prazeres passageiros e a busca da realização de desejos de consumo, incentivados pela indústria da propaganda. Em resumo: fala-se em felicidade, mas as pessoas são cada vez mais infelizes.
Estamos em tempo pascal. Páscoa é vida nova. Passagem do antigo para o novo. Que tal deixarmos que a força do ressuscitado nos transforme, que renove a nossa mente? A ressurreição não é uma esperança para o final da vida, mas uma força renovadora que temos a nosso dispor todos os dias. Feliz Páscoa!