Texto de P. Alcides Marques, CP
O orgulho e ansiedade andam de mãos dadas. Por mais paradoxal que pareça, a ansiedade excessiva, um dos grandes males de nosso tempo, é alimentada pelo orgulho. Quanto mais você for uma pessoa orgulhosa, mais estará sendo vítima da ansiedade. A humildade verdadeira faz, ao contrário, com que você se veja na sua verdadeira dimensão, sem se considerar mais nem menos do que os outros. E assim você se tornará uma pessoa realmente livre para viver a vida como um presente de Deus. Nada de ser escravo do passado, nem do futuro.
A humildade é um poderoso antídoto contra o orgulho. Aliás, é o melhor antídoto. Não estamos falando de uma humildade que destrói o nosso necessário amor próprio. Reconhecer o próprio valor, gostar de si, valorizar-se, reconhecer as próprias qualidades, são essenciais para o senso de autovalorização. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12,31), diz o Evangelho. Humildade sim, humilhação não.
Na carta de São Pedro temos uma passagem que ilustra bem como deveríamos entender a questão da humildade e da ansiedade. “Revesti-vos todos de humildade em vossas relações mútuas, porque Deus resiste aos soberbos e dá sua graça aos humildes. Humilhai-vos sob a poderosa mão de Deus, para que na ocasião própria vos exalte; lançai nele toda a vossa preocupação, porque é ele que cuida de vós” (1 Pd 5, 5b-7).
Não se trata de humilhação, que é uma postura de diminuição diante de outra pessoa, tanto por decisão própria quanto por vontade do outro. Nenhuma pessoa em sã consciência deveria adotar o comportamento de humilhação. Ninguém precisa se humilhar e ninguém deve ser humilhado. Estamos aqui falando da humildade. Humildade vem de “húmus”, que quer dizer, da terra. E isso implica uma consciência de igualdade. A pessoa humilde não precisa promover nenhuma imagem de superioridade diante dos outros, exatamente porque sabe que não é melhor do que ninguém. O humilde já está contente em ser quem é e, por isso, não precisa se sentir superior aos outros.
A pessoa orgulhosa precisa viver cultivando uma imagem de felicidade que não tem; que ela mesma sabe e sente que não tem. E assim, fica submetida a uma ansiedade sem fim. O orgulhoso não consegue entender que nem ele, nem ninguém, têm o controle da vida. O orgulhoso imagina que pode controlar a vida. Mas não pode. É por isso que São Pedro nos oferece este lindo ensinamento: “lançai nele (em Deus) toda a vossa preocupação, porque é ele (Deus) que cuida de vós”.
Vejamos um exemplo. Se você é uma mãe dominada pelo orgulho, vai querer cultivar a imagem da melhor mãe do mundo (diante das outras mães). Isso vai te tornar uma pessoa ansiosa, pois o seu filho (ou sua filha) pode não corresponder às suas expectativas. Você ficará eternamente com medo e assim, ou vai prejudicar a vida de seu filho (fazer dele uma pessoa dependente de você) ou a sua própria vida (vai se sentir fracassada) ou, o que é pior, de ambos. Como sair desta cilada? Recorrendo ao ensinamento de São Pedro: lance em Deus todas as suas preocupações, não queira ter o controle da vida; viva intensamente tudo o que a vida te oferece como um presente. Reconheça que há um desígnio divino e que esse desígnio é bom, mesmo que você não o entenda. Faça a sua parte, mas deixe que Deus cuide de tudo. Isso não é maravilhoso!