Texto de P. Alcides Marques, CP
Sabemos o quanto é difícil ser solidário – ou encontrar solidariedade – na hora do sofrimento. “Os amigos certos se conhecem nas horas incertas”. Quantos de nós já passamos pela experiência de sentirmos abandonados exatamente no momento em que estávamos precisando de uma presença e de um apoio. Ou, ao contrário, quantas pessoas queridas sentiram a nossa ausência na hora da dificuldade. É difícil “chorar com os que choram”. No entanto, mais difícil é ser solidário na alegria. Não concorda? Vamos refletir seriamente essa questão.
Imagine a hipótese em que seu “amigo” conseguiu comprar uma casa espaçosa, confortável e bem localizada. Imagine também que o mesmo conseguiu um excelente emprego. Ao saber da notícia, provavelmente vou vai dizer que está feliz por ele e até pode convidá-lo a ir comemorar em algum restaurante da cidade ou almoçar em sua casa. Mas eu te pergunto: você está realmente feliz por ele? A sua pretensa felicidade exterior é mesmo tradutora de uma alegria interior? São Paulo Apóstolo fala em alegrar com os que se alegram. Mas será que existe mesmo essa alegria? Parece que quanto mais próxima a pessoa está de nós, mas dificuldade temos. No lugar do amigo, coloque seu irmão ou irmã. O primeiro crime da Bíblia veio da dificuldade de Caim se sentir feliz com seu irmão Abel.
O exemplo utilizado pode ser alterado para várias situações da vida. Honestamente falando, nós não nos sentimentos bem com o crescimento das outras pessoas. E se não tomarmos consciência da presença desta tendência negativa em nós, ela vai se tornando altamente prejudicial – não só para a outra pessoa, mas especialmente para nós mesmos. É nessa hora que é bom lembrar o refrão da música de Cazuza: “eu não posso causar mal nenhum, a não ser a mim mesmo!”. Quando estiver se sentindo mal com a felicidade de outra pessoa, não tenha vergonha de si mesmo e assuma esta dificuldade interior. Esse é o primeiro passo para rapidamente recuperarmos a nossa serenidade.
Se há uma ilusão que nós precisamos vencer é a de achar que basta decidirmos pelo bem que automaticamente seremos bons. A vida não é tão simples assim. Viver é sempre aprender. Viver é sempre lutar contra a presença do mal que está dentro de cada um de nós. Essa luta deve ser constante. E quanto mais tomarmos consciência da presença do mal em nós, menos efeito ele terá sobre nós. Os fariseus do tempo de Jesus se achavam os mais perfeitos. Mas Jesus provou que eles apenas se achavam…
O que faz com que tenhamos dificuldade de nos solidarizar (realmente) na alegria é a inveja. Não é a toa que a inveja é considerada um dos sete pecados capitais. Capital porque gera uma infinidade de comportamentos destrutivos. Sem dúvida, o melhor antídoto contra a inveja é o desenvolvimento de uma fé de qualidade e do senso de valorizar a si mesmo. Faça esta experiência: todas as vezes que souber de alguém que está se destacando, pare um pouco e procure se colocar na presença de Deus e sentir o que Ele diz de você para você. Vou vai se surpreender com a importância que Deus dá à sua vida, aos seus dons e à sua missão de vida. Você vai se amar mais. E quem se ama, não precisa sofrer com a felicidade dos outros. Isso vai te ajudar em muito a dominar o sentimento de inveja. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lev 19,18).
O que fazer quando for você a pessoa “premiada” pela vida? Já que você sabe que o sentimento de inveja está presente nos outros, assim como está em você, a melhor atitude é cultivar a humildade nessa hora. Não viver fazendo propaganda de si mesmo. Deixar claro para os outros que você continua sendo a pessoa que sempre foi. A dica é não fazer ostentação. Ostentação não só no sentido material, mas em todos os sentidos. Isso porque as pessoas de bem aos poucos vão conseguindo dominar esse sentimento de inveja. É mais difícil ser solidário na alegria – porque entra em jogo a inveja -, mas, com o tempo, acabamos aprendendo. A vantagem de estarmos atentos a isso é que iremos economizar tempo (controlar mais rapidamente a inveja) e evitar comportamentos prejudiciais. Com Deus, o amor vence a inveja. Não é fácil, mas vence.