Ou Deus ou o dinheiro?

Texto de P. Alcides Marques, CP

Quantas vezes já ouvimos falar que “dinheiro não traz felicidade”. E isso é certo. Certo porque a vida está cheia de exemplo de pessoas que não tem tanto dinheiro e são felizes e outras que tem bastante e não são felizes. No entanto, podemos também dizer o contrário: “a falta de dinheiro não traz felicidade”. Podemos agora o usar o mesmo exemplo em sentido oposto: a vida está cheia de exemplo de pessoas que não tem tanto dinheiro e não são felizes e outras que tem bastante e são felizes. Tudo isso vem comprovar que felicidade e dinheiro não são aspectos interligados, mas paralelos. O que a fé cristã tem a dizer sobre isso?

Quando Jesus fala que não devemos adorar a Deus e ao dinheiro (cf. Mt 6,24) ele está falando dos valores absolutos. O “seu” deus é aquilo (ou aquele) que é absoluto em sua vida. E se algo ou alguém se torna absoluto, tudo o mais se torna relativo a ele. Se o dinheiro (os bens, o capital) se torna um absoluto para você, então o dinheiro é o seu “deus”. Para Jesus não é possível adorar o dinheiro (transformá-lo em absoluto) e ao Deus verdadeiro (Pai maternal) ao mesmo tempo. Não é que o dinheiro deva ser abandonado. O dinheiro é importante para a vida. Lucas fala de mulheres que serviam ao grupo de Jesus com seus bens (Cf. Lc 8,2-3). O problema não está em possuir dinheiro, mas em ser possuído por ele.

Qual o problema do dinheiro? O dinheiro traz a ilusão de poder. Achamos que através do dinheiro podemos tudo, podemos controlar tudo: as pessoas, o mundo, a vida, Deus. Em certo sentido isso funciona. Se você for a uma loja (e até em muitas de nossas igrejas) e aparentar ter muito dinheiro, provavelmente vai ser tratado como um rei ou rainha. Mas a realidade mais dia menos dia vai acabar ensinando que nós não temos realmente o controle da vida: doenças, perdas de pessoas queridas, contrariedades, perseguições, insegurança etc. A pessoa pode até ter dinheiro e ser feliz, mas ela não vai conseguir comprar felicidade através do dinheiro. Esse é o paradoxo do nosso mundo: a busca desenfreada por dinheiro e lucro traz tanto sofrimento para muitas pessoas que são vítimas da exploração e, ao mesmo tempo, não traz um milímetro de felicidade para aqueles e aquelas que são seus adoradores.

Você deve viver a sua vida naturalmente. Buscar uma vida digna para você e para os seus. Isso quer dizer que você precisa desempenhar sua missão de vida – que inclui sua profissão – da melhor maneira possível. Entenda que o dinheiro realmente legítimo é aquele que é fruto do seu trabalho. O dinheiro é importante para a vida. Agradeça sempre a Deus por ter coragem de lutar, por não ser escravo do dinheiro e, sobretudo, por saber partilhar os seus bens. É uma experiência altamente libertadora você sentir que a vida de tanta gente depende um pouquinho do seu trabalho e da sua partilha. Observe seus filhos, seus pais, as plantas, os animais domésticos, a sua igreja, os grupos que você ajuda… Observe que seu dinheiro é um instrumento importante para a sua missão de vida. E isso é possível sem que você se torne escravo do mesmo.

Quando você passar por uma experiência de perda ou diminuição do seu padrão de vida, não se desespere e procure se apegar ao Deus verdadeiro e buscar nele as forças necessárias para continuar a sua missão. A verdadeira riqueza desta vida é a fé que você possui e a possibilidade de viver dessa mesma fé. Você precisa de dinheiro para viver, mas não precisa ser escravo dele.