A Bíblia é luz para os nossos caminhos

Texto de P. Alcides Marques, CP

Setembro é o mês da Bíblia. É o mês em que celebramos a festa de São Jerônimo, que traduziu a Bíblia de então (do grego) para o latim, possibilitando assim a sua divulgação. Daí o nome de vulgata. Vamos procurar entender melhor o que é realmente a Bíblia. Mas isso para que possamos nos aproximar da mesma.  

A palavra “Bíblia” vem do grego “biblos” e significa LIVRO. A Bíblia é o livro por excelência, o livro dos livros. Na realidade, porém, a Bíblia não é um livro só, mas uma coleção de livros, uma biblioteca. A Bíblia contem 73 livros divididos em duas partes, uma biblioteca com duas estantes: o ANTIGO TESTAMENTO com 46 livros e o NOVO TESTAMENTO com 27 livros. A palavra “testamento” significa aliança. O AT refere-se a antiga aliança entre Deus e o povo de Israel através de Moisés (acontecimento central: libertação do Egito); o NT refere-se à nova aliança entre Deus e toda a humanidade através de Jesus Cristo (acontecimento central: morte e ressurreição de Jesus).

A divisão em capítulos e versículos não é original. Estevão Langton (séc. XIII) dividiuem capítulos. Professoresde universidades européias do séc. XVI dividiram os versículos: Santi Pagnini, os do Antigo Testamento e Roberto Estevão, os do NT.

A Bíblia não foi escrita em uma única língua, mas em três (hebraico, aramaico, grego). Em hebraico: a maior parte do AT. Em aramaico: Est 4,7-6,18; Dn 2,4-7,28. Em grego: Sabedoria, 2 Macabeus e todo o NT.

A autoria dos livros bíblicos não segue os critérios de nosso tempo. Na antiguidade não havia a idéia de direitos autorais. A maioria dos livros da Bíblia possui autoria por atribuição. Tratava-se de uma homenagem que os vários redatores de um texto prestavam a pessoas bastante significativas para os mesmos ou que se relacionavam com o assuntoem questão. O Pentateuco é atribuído a Moisés; os Salmos, a Davi; a Sabedoria, a Salomão; O Evangelho de Mateus, ao apóstolo Mateus. Das 14 cartas de Paulo, quatro não são reconhecidas como originalmente de Paulo (1 e 2 Timóteo, Tito e Hebreus).

A redação de um livro envolvia várias pessoas. O redator final podia utilizar-se de tradições orais ou escritas. Como na época não havia a necessidade da citação de fontes, o texto final mistura as tradições utilizadas com as idéias próprias dos redatores finais. Para interpretar corretamente um texto, é preciso separar redação final de tradições e descobrir qual era a intenção de cada uma delas.

INSPIRAÇÃO: Deus é o verdadeiro autor da Bíblia. Na Bíblia, Deus se revela por inteiro. Mas, utilizou-se de autores humanos. A Bíblia é o livro de Deus escrito por mãos humanas. Não se fala em ditado (Deus ditando diretamente suas palavras), mas em inspiração, ou seja, numa presença especial do Espírito Santo para garantir que os autores humanos colocassem por escrito a revelação de Deus. No momento em que escreviam os autores humanos nem sabiam que estavam escrevendo algo do próprio Deus. Escreviam para sustentar a fé do povo. Com o tempo, é que o povo de Deus foi identificando nestes escritos algo de divino.

VERDADE: Se a Bíblia é o livro de Deus, ela não erra. Em que sentido a Bíblia não erra? A Bíblia foi escrita segundo as capacidades culturais e literárias dos autores humanos e, neste sentido, pode conter erros. Erros históricos e científicos são possíveis na Bíblia, pois na antiguidade a história não era entendida como hoje (investigação criteriosa de fontes) e era contada em estilo narrativo (história interpretada); a ciência não era desenvolvida e os povos tinham uma concepção mitológica (poética) da origem do mundo. Os autores humanos escreveram para sua própria época. Assim sendo, a verdade da Bíblia deve ser buscada, única e exclusivamente, na mensagem de Deus. A narração da criação do mundo em Gênesis 1 não pretende dar uma explicação científica da origem do mundo, mas transmitir a mensagem de que Deus é a fonte de onde brota todos os seres. A libertação do Egito não se deu de forma tão espetacular quanto parece, mas é uma demonstração de que Deus sempre está ao lado dos oprimidos.

INTERPRETAÇÃO: A Bíblia não possui uma única interpretação, mas um leque de interpretações. Isso porque a razão de ser da Bíblia é iluminar a caminhada do Povo de Deus e como a realidade e seus desafios mudam, deve-se mudar também a maneira de se deixar iluminar pela Bíblia. Por exemplo: a parábola do bom samaritano (Lc 10) e do Juízo Final (Mt 25) nos desafia hoje a assumir uma atitude libertadora e não assistencialista em relação aos necessitados. Não tanto dar de comer, mas dar condições para que as pessoas tenham o suficiente para se alimentar. Observe que o que permanece é o apelo de solidariedade, mas a maneira concreta de proceder, em cada situação, muda. Para que a interpretação seja a mais fiel possível deve-se conhecer a intenção original do texto bíblico e deixar que tal texto ilumine a nossa realidade.