Texto de P. Mauro Odorissio, CP
Ao celebrar no Mosteiro S. Paulo da Cruz, na manhã do dia 12 de setembro, eu já antefruía a proximidade da Festa de Nossa Senhora das Dores (15 de setembro). Ao término da Missa, como que sob encomenda, a Comunidade cantou “Maria, teu lindo nome”, cântico de origem portuguesa. Eu já o ouvira. Regressando à sacristia eu me interrogava: a que nome da Virgem o canto está se referindo? Não tive muito tempo para ruminar meus pensamentos; agora, tomo a liberdade de partilhá-los.
Antes, solicito um pequeno espaço para que a reflexão possa ser mais bem aproveitada.
O nome, para os modernos, tem sua devida importância. Queremos saber com quem falamos, ao nos apresentarmos declaramos qual é o nome que nos identifica. Em nossos documentos, ele vem em primeiro lugar. Todavia, como existem nomes mais comuns, como José, Maria, Pedro, a ele nós ajuntamos o sobrenome. Então, o que passaria por genérico se torna específico. Por isso, existem Antonio tal e Antonio qual.
Resumidamente, podemos afirmar que o nome é um meio de identificação: faz com que alguém seja particularizado no meio de multidão. Sabemos de aborrecimentos vividos por pessoas que trazem tal meio de identificação e que, por infelicidade, é xará ou homônimo de alguém que andou dando golpe na praça.
Também para o judeu o nome é um recurso pelo qual as pessoas se identificam consigo mesmas e se distinguem dos outros. Contudo, há um detalhe de suma importância e que deve ser levado a sério: ele mostra a natureza e a missão a ser vivida ou assumida pela pessoa na história da salvação. Todos eles têm significado, embora nem sempre nos sejam claros. E é muito comum, explícita ou implicitamente, estarem vinculados ao nome de Deus. Então, jamais se afirmará sobejamente que, no nosso modo de pensar, somos nós que “carregamos” o nosso nome. Pela nossa vida, pelo nosso modo de ser, nós o fazemos simpático ou não. Assim, por causa do Traidor, é difícil encontrar alguém chamado Judas. Para o judeu, ao contrário, é o nome quem “carrega” a pessoa; mostra a missão a desempenhar na face da terra.
Exemplificamos e ilustramos o que dizemos; estranhamente e sem causar espécie, o Senhor “foi registrado” com dois nomes: Jesus e Emanuel. O primeiro significa “Deus salva” (Mt 1,21), e o segundo quer dizer: “Deus conosco” (Mt 1,23); essas foram a missão, a razão de ser do Senhor.
Voltando ao nosso caso: que quer dizer o nome Maria? Ao que tudo indica, ele vem do verbo “RUM” que significa elevar, exaltar. Ao verbo precede o prefixo “M”, donde surge o nome Míriam. Ordinariamente, os nomes hebraicos são teóforos, a saber: explícita ou implicitamente estão vinculados ao de Deus. Então, Maria significa “elevada”, “exaltada por Deus”. E ela foi por ele especialmente agraciada (Lc 1,28). Esse nome ela recebeu na terra; vejamos o que veio do céu.
Esperar-se-ia que o Anjo a saudasse mais ou menos nestes termos: “Ave, ou salve, oh Maria”. Contudo, simples, mas, significativamente ele diz: “chaire, Chekaritomene” = “ave, oh Cheia de graça”. Sendo assim chamada se mostra ela era “ a Plenificada” de Deus, a saber, Deus estava com ela e nela (Lc 1,26). E, por sinal, a partir daquele momento, nela o Verbo se fez carne (Jo 1,14). Por meio dela, na “plenitude do tempo” Deus enviou o seu Filho (Gl 4,4). Maria, então, não somente é a agraciada, como a Mãe do autor da graça. É esse o nome dela que veio do céu.
Maria, então, tem dois nomes: a Exaltada por Deus e a Agraciada por Deus. Ambos dizem o que ela foi e continua sendo.
Para enriquecer e confirmar esses poucos, mas preciosos dados, é de se acrescentar a exaltação que o Espírito Santo lhe fez pelos lábios de Izabel: “bendita és tu entre as mulheres”. E, para enriquecer essa proclamação disse que bendito era, também, o fruto que trazia em seu seio (Lc 1,42). É como se Maria e Jesus estivessem no mesmo plano, pois ambos foram igualmente proclamados “benditos”.
Mas, isso não é tudo! De Maria nos veio Jesus. Então, ela é o grande meio pelo qual nos vamos a ele.
Portanto, é de cantarmos: MARIA, TEUS LINDOS NOMES! E que, com nossa vida, saibamos honrar a Portadora desses nomes!