Salve, Paulo da Cruz!

Texto de P. Alcides Marques, CP

São Paulo da Cruz (1694-1775) é o fundador da Congregação Passionista. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 19 de outubro. O nome da congregação fundada por ele lembra paixão. A palavra latina “passio” é traduzida no português como paixão. Daí passionistas. Assim sendo, os passionistas têm como característica dominante o anúncio da paixão de Cristo, a propagação da memória da paixão. Existem na Igreja (e no mundo) para que não se torne esquecida a paixão de Jesus Cristo.

A grande intuição de São Paulo da Cruz foi de entender a paixão de Cristo como a maior obra do amor divino. Tanto em sua época quanto hoje, é comum que a nossa religiosidade se fixe nos aspectos dolorosos da paixão de Cristo. A coroação de espinhos, os ultrajes dos soldados, as quedas, o golpe com a lança e assim por diante. Ao assistir filmes ou encenações da paixão, acabamos chegando a seguinte conclusão: “como Cristo sofreu por nós!” São Paulo da Cruz, ao contrário, quer que nosso pensamento se desloque para outra constatação: o amor de Cristo manifestado na cruz. Devemos ir além do sofrimento e atingir o amor. Aí sim a cruz se torna genuinamente libertadora.

São Paulo da Cruz percebeu em seu tempo que a paixão de Cristo estava sendo esquecida no coração e na mente dos fieis. E como entendia a paixão como expressão máxima do amor de Deus, concluiu que o seu esquecimento é um fator fundamental para a propagação de tantos males na sociedade. Dizia que a paixão de Cristo é o remédio mais eficaz para todos os males. Sem a memória da paixão, o amor perde e o mal vence. É por isso que São Paulo da Cruz buscava incutir nas pessoas não só a devoção à paixão, mas também a necessidade de fazerem memória da paixão.

A diferença entre devoção e memória é que a devoção se caracteriza por um conjunto de atos religiosos, como a via-sacra, relógio da paixão, celebrações diversas relacionadas à paixão de Cristo. Já a memória tem a ver como uma experiência pessoal de se saber atingido pela paixão de Cristo e de olhar o mundo, a vida, as pessoas, a si mesmo a partir do Cristo crucificado. Diante da imagem do Cristo crucificado, quem faz memória busca perceber como Cristo o vê naquele momento, o que Cristo lhe pede naquele momento. Isso não é fazer da cruz um objeto de meditação, mas um deixar-se interpelar pelo Crucificado. As devoções à cruz são importantes, mas são meios para algo maior: a experiência do Cristo Crucificado, a experiência do Amor de Cristo Crucificado. São Paulo da Cruz sempre guardou na memória uma experiência que aprendeu de sua mãe, Ana Maria Massari: quando ele ou algum de seus irmãos passavam por algum tipo de dor, a mãe – além dos cuidados normais – sempre mostrava o crucifixo e dizia: “vê, meu filho, o quanto Jesus sofreu por nosso amor”. Na hora da dor, ela queria que eles percebessem o amor de Jesus. A cruz era a força que levava à superação da dor, não um instrumento de justificação da dor.

O ensinamento de São Paulo da Cruz permanece sempre atual. Que cada cristão possa fazer constantemente esta experiência do amor que brota da cruz. Perceber o quanto tal experiência liberta para a vivência do amor.