Entrevista do P. Marcelo Rossi

Texto de P. Alcides Marques, CP

No “Fantástico” do dia 08 de dezembro de 2013, foi exibida uma entrevista do P. Marcelo Rossi à jornalista Renata Vasconcellos, apresentadora do programa. Se o P. Marcelo decidiu conceder esta entrevista é porque julgou que a mesma iria trazer algum benefício às pessoas ou a ele mesmo. Espiritualmente falando, a entrevista pode ser uma ótima oportunidade para que nós, cristãos católicos, reflitamos sobre como estamos lidando com a vida e também sobre a poderosa influencia que este mundo tem sobre todos nós.

Pessoalmente admiro muito o trabalho do P. Marcelo. Não tenho como negar que o seu método de evangelização trouxe muitas pessoas à vida cristã. Admiro também a sua ousadia de se utilizar de um método moderno de evangelização. Ele fez e faz muito bem à nossa Igreja. Mas vejamos a questão da entrevista.

A história começou com uma queda na esteira ergométrica, que o levou a ficar por seis meses na dependência de uma cadeira de rodas para se locomover. Tal situação de dependência, o levou a um momento de depressão, que segundo ele já foi superado. Na entrevista, P. Marcelo disse que não recorreu à ajuda de um profissional (psicólogo ou psiquiatra). É aqui que me parece está o começo do problema; diante de uma depressão moderada ou grave, nós não temos alternativa: devemos recorrer à ajuda de um profissional. Ninguém deve pensar que isso é fraqueza na fé. Ao contrário, a fé exige que cuidemos de nossa saúde. E também não é por fraqueza de fé que alguém fica deprimido. A depressão tem sua origem em vários fatores e pode atingir qualquer pessoa, mesmo alguém com uma fé firme e estabilizada. Se o P. Marcelo tivesse recorrido à ajuda de um bom profissional, possivelmente teria evitado outros problemas.

O segundo problema. Provavelmente, ele foi vítima de um transtorno alimentar. Comeu bastante e engordou bastante. Mas, isso levou as pessoas a notaram que ele estava muito gordo. Diante de alguém que cultivou a imagem de uma pessoa atlética, de repente aparecer gorda, chama mesmo a atenção. Como ele é um homem de academia, tal observação serviu para desestruturá-lo internamente. Aí começou o processo contrário, o de querer se livrar rapidamente dos quilos adquiridos: alface, cebola e três hambúrgueres por dia. O resultado foi infalível: emagreceu, mas também enfraqueceu. Enfraqueceu tanto que caiu de novo da esteira. Novamente, ele precisava da ajuda de um profissional. Não sei se recorreu ou não. Pena que na entrevista isso não ficou claro.

Um terceiro problema. P. Marcelo também lamenta a sua falta de privacidade.  Acontece que no mundo em que vivemos ninguém pode garantir totalmente sua privacidade. Cada celular é, no mínimo, uma máquina fotográfica ou câmera de vídeo. Vivemos numa espécie de “big Brother” coletivo em que todos vigiam todos. Em resumo: toda pessoa minimamente pública tem que aprender a conviver com essa realidade. O problema é quando a pessoa se torna uma celebridade. Nesse caso, ela se torna um foco de atenção constante. O Pe Marcello investiu nessa imagem de celebridade (não quero dizer que tenha sido proposital). Apareceu em muitos programas de televisão, em revistas e jornais. Quem é de mídia, recebe muitos benefícios, mas também se torna mais vigiado. Muitos atores e cantores também padecem do mesmo problema. Querem que a mídia se interesse apenas pelos seus trabalhos. Mas não é assim que ela funciona. Quem investe na fama tem que arcar com as consequências da fama.

A demonstração de uma fraqueza é sem dúvida um gesto bastante positivo. Nós cristãos não precisamos ficar passando para os outros uma imagem que não traduz quem realmente somos. Neste sentido, a entrevista do P. Marcelo foi benéfica. Também me parece que ele buscou mostrar às pessoas que não se deve adotar uma “dieta maluca”. No mundo em que a aparência é muito importante, sem dúvida esse alerta ajuda bastante, sobretudo porque vem de quem passou por uma experiência negativa nesse sentido.

A entrevista deve nos levar a uma solidariedade na oração com o P. Marcelo, para que ele possa o quanto antes retomar a sua missão de vida com toda a sua capacidade. Isso sem se preocupar em ser famoso, mas em anunciar Jesus Cristo. Todos nós temos obrigação de cuidar de nossas vidas, pois uma boa saúde é condição importante – evidentemente que não essencial – para servirmos bem aos nossos irmãos e irmãs. Vamos cuidar melhor de nós mesmos, das pessoas que amamos e das pessoas que precisam de nós? Vamos cuidar melhor da vida do planeta em que vivemos?