Texto de P. Mauro Odorissio, CP
Confessamos cândida e sinceramente: nossa última festa de S. Sebastião, mesmo na simplicidade e singeleza, nos propiciou momentos fortes de reflexão e de oração pessoais.
No passado, mesmo distantes, sempre nos vimos vinculados à Comunidade. Agora, porém, mais aproximada e concretamente. Regressando, não nos vimos adventícios com missão de colocar restos de possíveis préstimos ao seu serviço. O sentimento foi de filho retornando à casa paterna.
Criança ainda, aqui fomos excepcionalmente beneficiados: pessoas queridas marcaram nossa caminhada nada desprezível em anos. Foi nesta Comunidade e em momento preciso e carinhosamente por nós conservado que decidimos ser padre passionista. E há semanas, ela nos solicitou que escrevêssemos os comentários para o Tríduo Preparatório e para a Missa Festiva de São Sebastião. As circunstâncias nos deram, ainda, a chance de presidir as várias celebrações Eucarísticas que, para nós, foram ocasião de especiais reflexões enriquecedoras.
Foi recordado como S. Sebastião tinha tudo para galgar postos destacados no exército imperial: oficial brilhante, capaz, inteligente. Bastava-lhe um mínimo de carreirismo, não desagradar pessoas e idéias em destaque. Mas, ele era discípulo inteiriço do Senhor: estava a serviço do Reino de Deus, e não ao que o império romano tinha de pior. Foi, então, condenado a morrer flechado. Os esbirros executores deram-no por morto. Contudo, a comunidade cristã constatou que S. Sebastião ainda vivia. Cuidado, recuperou-se e, uma vez em condições, não pleiteou o seu destacado posto: enfrentou o César. Foi, então, executado a cacetadas.
Esse exemplo de fé – não trocar os valores eternos pelos passageiros – em passado não tão distante, tocou um punhado de pessoas quando da fundação de S. Carlos. Resolveram construir uma pequenina capela onde atualmente, está o Instituto Dr. Álvaro Guião. Nela se encontravam em comunhão, em oração e serviço para viver autenticamente Cristo à exemplo do Santo. Com o passar do tempo, a ermida foi transladada onde se encontra, agora, a nossa Paróquia.
1910: oito Jesuítas portugueses vieram a S. Carlos. A capelinha foi entregue aos seus cuidados. O casario ao redor foi crescendo, aumentou a afluência de fiéis. Os Jesuítas compraram o terreno pertencente à Companhia Paulista de Eletricidade, e nele construíram o convento e o atual templo que recebeu o nome de Igreja do S, Coração de Jesus e de S. Sebastião.
1932: os Passionistas adquiriram deles todo o imóvel. A Comunidade continuou crescendo quantitativa, patrimonial, operacional. e qualitativamente. Foram surgindo lideranças abnegadas. Ante novas necessidades e para melhor desempenho das atividades pastorais, em 1972 a Igreja S. Coração de Jesus e S. Sebastião se tornou a sede da PARÓQUIA S. SEBASTIÃO.
No presente, é constatável o zelo, a abnegação, o esforço de muitos irmãos e irmãs que, em comunhão com os religiosos Passionistas, tudo fazem para melhor servir. É confortante e animador, pois é do verdadeiro cristão ser servidor, como servidor foi o Mestre (Jo 13,12-17).
No Tríduo Preparatório refletimos que muito do pouco que somos, devemos a tantas pessoas apostólicas, a tantos Passionistas abnegados da Comunidade. Isso, olhando apenas o passado.
Mas, nossa visão jamais será completa se, do presente, não vislumbrarmos e projetarmos o futuro. Então, sem sermos apressados e ingratos pensemos nos bens paroquiais que agora desfrutamos: são frutos herdados de irmãos abnegados. É o que nos diz nosso “espelho retrovisor”.
Todavia, é de pessoas sadias, maduras e equilibradas serem gratas. E do cristão se espera muito mais. E o queremos ser, de modo especial “no Senhor”.
Mas, a vida é movimento; mais, é “auto-movimento”. Carecemos olhar para frente, encarar e construir o futuro, e nele vislumbrarmos irmãos. Surge, então, a interrogação: que ser, que fazer para que nossos pósteros não encontrem só deserto arrasado após nossa passagem?
Logicamente esse questionamento nos leva a interrogarmo-nos: sou paroquiano que apenas “suga” sem nada produzir pelo bem comum? Que faço, concretamente, para o crescimento do Reino de Deus? Apenas rezo com a boca: “venha a nós o vosso Reino”?
Sintamos e assumamos o eco da celebração do Padroeiro, e a ele supliquemos luzes e forças necessárias para sermos, verdadeiramente, Comunidade, verdadeiramente Comunhão.