A samaritana e a sede de viver

Texto de P. Alcides Marques, CP

O diálogo de Jesus com a samaritana (Jo 4,7a-23) é uma das passagens mais bonitas do Evangelho. Um diálogo profundamente libertador. Bastante interessante para ser meditado neste dia internacional da mulher. No começo é Jesus quem está com sede, mas no fim é a samaritana e os seus que saciam uma sede que água nenhuma deste mundo pode saciar. Uma coisa é a sede de água, outra é a sede de viver. Precisamos saciar as duas.

A primeira palavra de Jesus é um pedido humano: dá-me de beber. A primeira palavra da samaritana é a expressão de um preconceito cultural. Não que ela seja preconceituosa. Mas ela se espanta com o fato de Jesus, sendo judeu, estar pedindo um favor a ela, uma samaritana. É que os judeus não se davam com os samaritanos. E além do mais ela era mulher, um ser de segunda categoria para os costumes da época. Não era considerado digno para um mestre conversar publicamente com uma mulher. Mas Jesus não vê o mundo assim; não coloca etiqueta nas pessoas. Para Jesus, não tem isso de uma pessoa valer mais do que outra. Gente é gente. “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10).

É por isso que a resposta de Jesus aponta para outra água: a água viva. Tal água é a salvação, a libertação, a graça. Somente a água viva é que sacia a sede de viver. E somente Jesus é que pode oferecer esta água. A sede de viver é nossa sede maior; e quando não conseguimos saciar tal sede, nos fixamos em sedes menores, como bens materiais, fama, poder e assim por diante. A água viva não é uma água material; não precisa de balde. Esta água viva precisa ser acolhida no ser de cada pessoa e assim a própria pessoa se torna fonte dessa água. “A água que eu lhe darei tornar-se-á nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna”.

A samaritana melhora sua compreensão e quer a água viva, mas continua não entendendo plenamente. Ela quer uma solução mágica. Mas o que ela precisa mesmo não é uma solução mágica, mas ir ao encontro da verdade da vida. Para isso, vai precisar acolher a “sua” verdade. E a sua verdade é a seguinte: ela não tem ninguém. Teve vários maridos e o que agora tem não é dela. O que ela precisa ir ao encontro de si mesma para buscar a verdade de sua vida. Sem isso, não se sacia a sede de viver.

Ela consegue reconhecer que Jesus é um profeta. A samaritana desperta para a vida nova. Olha para frente. Ela quer ir ao encontro do Absoluto, mas onde? Ela imagina que tal encontro se dá através da prática religiosa (Jerusalém ou monte Garizim). Mas Jesus lhe ensina que o encontro com Deus se dá através da verdade e da abertura de coração (adorar em espírito e verdade). Ela diz que somente o Messias Prometido é que conduzirá as pessoas à verdade plena. E Jesus responde: “sou eu”. Ele não é um profeta (alguém que fala em nome de Deus), mas é o Messias, o libertador definitivo.

A samaritana sai correndo e vai proclamar a boa-notícia a todos. E eles vão deixar-se envolver pela libertação trazida por Cristo. Não como uma ideia, mas como uma experiência pessoas: “nós próprios ouvimos e sabemos que esse é verdadeiramente o salvador do mundo”. A verdadeira evangelização é isso: levar as pessoas ao caminho da experiência da presença libertadora de Jesus.

Tal como os samaritanos, nós estamos precisando de muitas “samaritanas” nos dias de hoje. De mulheres que nos apontem o caminho de Jesus. O que seria de nossa Igreja sem as mulheres. Que neste dia internacional da mulher o Senhor Jesus abençoe a todas aquelas que dão testemunho do amor, da justiça, da vida, da verdade… do Pai, do Filho e do Espírito.