Texto de P. Alcides Marques, CP
A fé na ressurreição de Cristo é parte fundamental da nossa fé cristã. “Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a nossa fé.” (1Cor 15,14). Nós acreditamos que a vida venceu a morte. E que venceu em direção a um caminho de plenitude. Ressurreição não é volta à vida antiga, mas a plenificação desta vida. É vida nova. Por isso mesmo, a ressurreição é uma força que nos move a sempre olhar adiante. Não somos prisioneiros do absurdo. A minha vida tem sentido. A sua vida tem sentido. E nós somos chamados (as) a deixar que a força do Ressuscitado envolva as nossas vidas em todos os momentos, particularmente naqueles que dão a impressão de termos atingido o fundo do poço.
A fé na ressurreição aparece de vários modos no Novo Testamento: a) como fórmula de fé: “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.” (1Cor 15,3-5); b) como testemunho do Ressuscitado: “Mas Deus o ressuscitou ao terceiro dia e concedeu-lhe que se tornasse visível, não a todo o povo, mas às testemunhas anteriormente designadas por Deus, isto é, a nós que comemos e bebemos com ele, após sua ressurreição dentre os mortas” (At 10,40-41. Também 1Cor 15,3-8); c) pelos relatos evangélicos (Mc 16,1-8; Mt 28,1-20; Lc 24,1-53; Jo 20,1-21.23): todos os evangelistas narram a ressurreição.
O “regresso à Galiléia”, diante do fracasso de Jesus (morte de cruz) foi um fato histórico. Os discípulos voltaram como derrotados e fracassados, uns perdedores. E eis que, pouco tempo depois, estes mesmos discípulos estão de volta à Jerusalém. E estão pregando. Não os ensinamentos de Jesus, por mais maravilhosos que eles tenham sido, mas o acontecido: Jesus ressuscitou! O que foi que deu origem a esta convicção?
Não foi o fato de terem encontrado o sepulcro vazio. As mulheres saíram correndo de pavor (Mc 16,8; Mt 28,8; Lc 24,4). Dado ambíguo, sujeito a várias interpretações, inclusive de roubo do corpo de Jesus. Sem dúvida, aponta para a possibilidade da ressurreição, mas não produz a fé na ressurreição.
A fé na ressurreição encontra sua origem nas aparições. Os discípulos viram o Ressuscitado. Lucas e Paulo utilizam o termo grego “ophté” para indicar que Jesus “apareceu”. Esta expressão designa uma ação reveladora de Deus, conforme At 13,30-31: “Mas Deus o ressuscitou dentre os mortos, e por muitos dias apareceu aos que com ele tinham subido da Galileia para Jerusalém”. Não de trata de sonhos ou visões subjetivas: as aparições são colocadas como algo de original. A fé na ressurreição é fruto de um impacto provocado sobre os discípulos e que estava fora de suas possibilidades de representação. Foi uma experiência de fé.
Foi um fato histórico? No sentido convencional da palavra, não. A ressurreição não pode ser objeto de investigação histórica. Ela é uma experiência de FÉ. Somente os discípulos de Jesus tiveram este privilégio. Um observador neutro não teria como ver o Senhor Ressuscitado. A questão que fica para as gerações seguintes é aceitar ou não o testemunho das testemunhas do Ressuscitado.
Existem razões de credibilidade das testemunhas do ressuscitado: a) o fracasso histórico de Jesus (Jesus morreu como um fracassado); b) a fé pré-pascal sucumbiu à cruz (os discípulos não tiveram coragem de acompanhar Jesus); c) todas as testemunhas tiveram a mesma experiência: viram o Senhor ressuscitado; d) não se fala em sonhos e visões, mas numa experiência de ver. e) o martírio de quase todas as testemunhas do ressuscitado (pagaram com a própria vida aquilo que anunciaram); f) o sentimento interior de quem acredita (todos nós não aceitamos a morte, não gostamos dela; há algo no nosso interior que diz não ao absurdo da morte).
Podemos concluir dizendo que a ressurreição foi um acontecimento real, mas meta-histórico. É como se o fim da história fosse revelado durante a mesma. Trata-se de um acontecimento escatológico: a plenitude da vida se manifestando no presente. O reino chegou na pessoa de JESUS. Deixemos que fé em Cristo ressuscitado seja a grande força motivadora para o nosso viver.