Texto de P. Alcides Marques, CP
Nos evangelhos das últimas semanas, observamos que os discípulos de Jesus tiveram a experiência da sua ressurreição num dia de domingo. Foi no primeiro dia da semana que Jesus apareceu a Maria Madalena, aos discípulos reunidos e, uma semana depois, aos discípulos com Tomé. Também aos discípulos de Emaús. E assim o domingo passou a ser vivido pelos cristãos como o dia da Nova Aliança, o dia do Senhor. Mas será que realmente santificamos este dia? O que é santificar o domingo?
No A.T. o dia do Senhor era o sábado, o dia do término da obra da criação (Cf. Gn 2,2). O sábado era o dia reservado para o descanso. Até mesmo os animais deviam no sábado (Cf. Ex 20, 8-10).
Originalmente, era um mandamento a favor da vida (direito ao descanso). Mas acabou tendo o seu sentido deturpado, sobretudo pelos fariseus. Por isso, Jesus teve uma postura crítica diante desta interpretação. A lei maior é a lei do amor. Não foi o ser humano que foi feito para o sábado, mas o contrário: o sábado é que foi feito para o ser humano (Cf. Mc 2,27). Em outras palavras: o sábado é que devia estar a serviço do ser humano. Ninguém está dispensado de fazer o bem, de salvar uma vida, de praticar a justiça.
Partindo do princípio estabelecido por Jesus de que o dia do Senhor deve estar a serviço do ser humano, é que devemos compreender o sentido da santificação do domingo. O domingo é um dia inteiro, de 24 horas, e a totalidade deste dia é que deve ser santificada. A missa dominical é a expressão maior desta santificação. Mas o domingo é mais do que o horário da missa. É o dia do descanso. Não somente do descanso do corpo, mas também do descanso da mente, da alma, do espírito. Domingo é o dia da fraternidade. É um dia diferente. Diferente porque neste dia lembramos a vitória de Cristo sobre a morte. É um dia festivo por natureza.
Victor Frankl fala de um mal chamado de “Síndrome do final de semana”. Se você reparar bem é no final de semana que muitas pessoas voam com seus carros pelas ruas de nossas cidades ou se embriagam o tempo todo. Velocidade e embriaguez simbolizam o desejo de fugir de si mesmo. Quer dizer: as pessoas não suportam o silêncio e o descanso. Fazem de tudo para fugir deles. O mandamento de Deus exige de nós de cristãos que realmente reservemos um dia de nossa semana para cuidar de nós mesmos e cuidar dos outros, incluindo a criação. Domingo deve ser um dia de paz, alegria, serenidade, fraternidade, consciência.
A missa dominical, que pode ser a de sábado a partir do meio-dia, é o ponto alto da santificação do domingo. É por isso que ela é mais solene, mais demorada do que uma missa semanal. É o dia do encontro com os irmãos e irmãs na fé. A comunhão que recebemos nesta missa é uma grande força (espiritual) para a ressurreição do amor. O teólogo Juan Luis Segundo diz que a Eucaristia é o sacramento da ressurreição do amor. O sacramento eucarístico, quando recebido sinceramente, não deixa que o amor se transforme em rotina; ele renova a amor. Não é verdade que você sai bem melhor da missa dominical?
Descansar não é somente um direito humano e não é somente ficar sem trabalhar. Trata-se de um mandamento de Deus, de uma obrigação religiosa. Não é maravilhoso saber que Deus cuida de nós?