Texto de P. Mauro Odorissio, CP
Ao intitular nosso artigo, constatamos que, anteriormente, escrevêramos outro com o título “Maio, mês mariano”. Embora da mesma fonte, não são a mesma coisa. Sentimo-nos, então, desafiados a descobrir possíveis diferenças e semelhanças, distinção e identificação entre ambos.
Sem delongas e maiores arrazoados, parece-nos que “Maio, mês mariano”, indica mais um tempo e devoções dedicados a Nossa Senhora o que é muito bom. Todavia, seria lamentável e questionador se eles não estivessem profundamente marcados pelo espírito da Mãe de Deus e nossa Mãe. “Maio Mariano”, ao contrário, tenta mostrar devotos e devotas “marianizados” (perdão pela nossa mania de criar neologismo), a saber, não só pensando em práticas exteriores, mas em pessoas impregnadas pela espiritualidade oriunda daquela que nos foi dada por mãe: Maria!
Tentando exemplificar: é comum chamar maio de o “mês das rosas”. Não contando com a intervenção humana na natureza, elas, neste tempo, acontecem no hemisfério norte. Lá é primavera e as roseiras naturalmente desabrocham e florescem. Aqui, ao contrário, as plantas se recolhem para o merecido repouso e retemperar energias para a chegada do tempo primaveril. Aí, sim, a natureza explodirá em exuberância. Acontecerá uma sinfonia de cores, perfumes e belezas!
Assim mesmo em maio, multiplicamos nossos cânticos em louvor à Virgem Mãe, possivelmente no dia 31 ela será coroada, acontecem encontros especiais para recitar o terço, seus altares ficam mais ornamentados com flores, velas e toalhas. Corações marianos ofertam florilégios, a saber, pequenos atos de mortificação, de práticas piedosas, de obras de misericórdia em louvor a Maria.
Apressamo-nos a nos explicar para evitar mal entendidos, más interpretações: acatamos e aprovamos todas essas devoções. Contudo, é de questionarmo-nos: elas partem da profundidade de um coração mariano? Externam e alimentam o que nele acontece? Há vínculo entre elas e o coração?
Para o nosso bem, e para um verdadeiro culto mariano, não sejamos apressados em responder. Ao contrário! Com calma imaginemos um grupo de bons atores, mas pessoas não crentes; poderiam ou não fazer tudo o que fazemos e com maior perfeição, com maior beleza? Isso, porém, seria puro teatro!
Então, a devoção mariana não pode ser simples prática exterior. Deve haver ressonância entre interioridade-exterioridade. Jesus condenou, severamente, a não coerência entre o interior e o exterior na vida religiosa. Entrou em profundo choque com os fariseus e doutores da lei, nata da vida religiosa dos judeus. Basta citar a série de sete “ais” lançados contra eles (Mt 23,13-36).
Então, não basta que maio seja mês mariano, a saber, que nele sejam feitas celebrações recordando Nossa Senhora. Além disso, mais do que isso, e por isso alimentados, é necessário que nós sejamos marianos. A partir de então, além de “maio, mês mariano”, teremos “maio mariano”: nosso interior e exterior estarão em profunda comunhão e interação.
Como poderia ser? Imbuídos, revestidos de Maria, a partir de nosso interior, como ela, dela e nela, colaborar para que a “plenitude do tempo” continue se realizando. A formulação é simples, mas é prenhe de sentido e de mistério: “quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher… a fim de que fôssemos adotados como filhos” (Gl 4,4-5). Por meio de Maria, o Senhor assumiu carne e habitou entre nós (Jo 1,14). Por meio dos verdadeiros marianos, o Verbo continuará se presentizando em nós, em todos e em tudo, para que sejamos cada vez mais filhos de Deus.
Essa especial “marianização” implica que, sempre com ela, como ela e nela, estejamos postados como discípulos verdadeiros: estar silentes e de corações abertos aos pés do Mestre, dizendo: “eis aqui o servo, a serva do Senhor, seja feito em mim, segundo a vossa palavra” (Lc 1,38). A partir dessa profunda experiência com o Senhor, haverá especial concepção em nós. Então, como Maria e com ela, nos tornaremos “apressados” indo a todos e a todas as “isabéis” do mundo levando Cristo (Lc 1,39-45).
A todos, santo “maio mariano”.