De Jesus para o Espírito Santo

Texto de P. Alcides Marques, CP

As três pessoas da Santíssima Trindade são realmente três pessoas. Não é que uma mesma e única pessoa ora representa o papel de Pai, ora de Filho, ora do Espírito Santo.  E também não é que uma das pessoas, no caso o Pai, possui mais dignidade do que as outras. O Novo Testamento testemunha que são três e que participam da mesma dignidade divina.

Não temos condições de entender tal mistério com a nossa inteligência humana, mas se amamos algumas pessoas neste mundo, sem dúvida teremos condições de nos aproximar bastante do mistério trinitário. “Pois o amor vem de Deus e todo aquele que ama vem de Deus e conhece a Deus” (1 Jo 4,7b). A festa da ascensão representa a passagem do tempo de Jesus para o tempo do Espírito Santo. Não é que Jesus abandona seus discípulos, mas Ele se fará presente de outra forma.

Jesus Cristo é o Verbo encarnado. É a Palavra que se fez carne e veio morar entre nós. Vamos guardar bem o “entre nós”. O Filho, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, é o Deus conosco. Recordemos a passagem do Evangelho da infância: “Eis que a virgem conceberá e dará a luz a um filho e o chamarão com o nome de Emanuel, que traduzido significa: Deus está conosco” (Mt  1,23). O Verbo encarnado é Deus-conosco, Deus ao nosso lado, Deus que se fez cultura e que se fez história; que viveu junto com a humanidade numa determinada época e num determinado lugar. Ele veio para nos revelar Deus Pai e seu desígnio amoroso. A partir de então, quem quer saber quem é Deus, como se relacionar com Ele e o que Ele quer, deve procurar as palavras e atitudes de Jesus Cristo. Quando Filipe pede: “mostra-nos o Pai e isso nos basta!” (Jo 14,8), Jesus responde: “quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,10). Como a segunda pessoa é o Verbo, a Palavra, a nossa atitude fundamental diante da mesma é a escuta. “Assim, todo aquele que ouve essas minhas palavras e as põe em prática será comparado ao homem sensato que construiu sua casa sobre a rocha” (Mt 5,24).

Mas a escuta só não basta. Precisamos também de força para praticar a Palavra. Precisamos de uma energia divina. E é aqui que entra a terceira pessoa da Santíssima Trindade, o Espírito Santo. Uma coisa é sabermos o que devemos fazer, outra é ter força para fazer. Por isso, Jesus afirma no IV Evangelho: “é de vosso interesse que eu parta, pois se não for, o Paráclito não virá a vós” ( Jo 14,7). A nossa força humana não consegue fazer o que quer Jesus. Precisamos de uma força divina. O que Jesus promete aos discípulos e discípulas é que eles receberão o Espírito de Deus. E assim não teremos apenas uma energia divina, mas também uma pessoa divina em nós. É por isso que podemos chamar o Espírito Santo de Deus em nós.

O Espírito Santo está ligado à dimensão de interioridade e inspiração, é a força que nos move a agir, a fazer a Vontade do Pai. Não é que deixamos de ter o nosso eu. Não existem possuídos por Deus.  Deus é libertador, não escravizador. Somos parceiros de Deus. Mas devemos entender que o Espírito Santo mora em nós e mora para povoar nossos pensamentos e sentimentos e para impulsionar nossa vontade para a prática do bem. Ele distribui seus dons a todos nós. Não existe ninguém sem dons. O que pode acontecer é que alguém ainda não descobriu os seus dons ou talvez tenha descoberto, mas o seu eu impede que tais dons sejam colocados a serviço do bem comum. É óbvio que você não é Deus, mas você é um ser divinizado, que carrega a energia divina. Espalhe esta energia onde quer que você esteja. Deixe que o Espírito Santo prevaleça em seu interior. Isso é viver em paz. Isso é ser feliz. Quem vive segundo o Espirito é verdadeiramente livre. “Pois o Senhor é o Espírito, e onde se acha o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2Cor 3,17)