Trio de ferro

Texto de P. Mauro Odorissio, CP

Sem tempo para escolher título mais adequado e iluminador, de imediato e sem delongas, optamos pelo que encima o nosso artigo. Esperamos que o conteúdo do escrito o justifique e o aclare. 

No dia 24 de junho celebramos a festa do nascimento de S. João Batista e sabemos que a Comunidade Paroquial se prepara para as festividades sazonais. Com ela e, mais ou menos como ela, tantas paróquias e comunidades festejam o Precursor, bem como S. Pedro e S. Paulo, por nós chamados de “trio de ferro”. São encontros festivos, com quadrilhas, fantasias, fogueiras, quentão, batata doce, doces típicos e quejandos.

Desejaríamos, no limite do espaço disponível, e em comunhão com os leitores, refletir cada um dos festejados: João Batista, Pedro e Paulo, razão de ser das festividades.

Nada, e ninguém existem sem razão suficiente. Tudo e todos têm sua razão de ser. Todavia, parece que algumas pessoas foram mais distinguidas. Ou, ao menos, deixaram pegadas marcantes, dignas de considerações. Entre tais pessoas, realçamos o primeiro dos Santos: S. João Batista.

Quando ele chegou ao mundo, a humanidade estava para dar um salto qualitativo: preparava-se para acolher o Verbo feito carne, e abraçaria a revelação plena (Gl 4,4). Em outras palavras, o Primeiro Testamento cederia lugar ao Novo, a figura seria substituída pelo figurado: o Senhor se faria carne salvificamente, e o seu arauto foi o Filho de Zacarias e Isabel (Lc 1,5-25.57-80), que cedo abraçou a vida austera de anacoreta atraindo multidões ao deserto. Nele, como profeta, anunciou o projeto divino e denunciou desmandos, o que lhe custou a vida (Mt 14,3-12).

Sem titubeio, João anunciou o Senhor entre nós (Mt 3,10-12; Jo 1,29-35). Todavia, na prisão, ao saber que Jesus não “punha para quebrar”, como anunciara, mas que acolhida os pecadores, os marginalizados, enviou discípulos que o interrogassem se era ele o esperado ou de deveria esperar outro. O Mestre não lhe deu resposta pronta; que tirasse conclusões do que estava sendo dado ouvir e ver (Lc 7,18-23). Que, como homem de fé, soubesse que ela não é pacífica possessão e sim, luta sem tréguas. Então, com a sua vida, o Santo continua sendo arauto de Jesus.

O outro Santo do “trio” festejado em junho é o entusiasta e generoso Pedro. Tinha pouca escolaridade, mas seu coração não cabia em seu peito. Apaixonado pelo Mestre, como todo mortal teve suas debilidades (Jo 13,36-38). Renegou-o em momento de fraqueza (Jo 18,15-27). Caiu em si, chorou amargamente pelo que fizera e soube dar a sua vida por Cristo. O Mestre escolheu para que assumisse a Igreja e apascentasse o rebanho a ele confiado (Jo 21,15-17; Mt 16,17-19).

Completando a tríade dos Santos festejados, emerge o apóstolo Paulo. Inteligente, culto, abraçou com zelo a fé herdada dos seus. Discípulo distinguido do renomado Gamaliel (At 22,3) se distinguia entre os colegas de estudo (Gl 1,14).

No inicio, seu acirrado zelo de fariseu o transformou em figadal inimigo dos cristãos que ele os perseguia sem repouso. Contudo, teve especial experiência com o Crucificado-Ressuscitado que o transformou em insigne apóstolo do Senhor. Reputou tudo como lixo para seguir Cristo. Exímio apóstolo, escritor e santo fez com que o cristianismo fosse além dos limites estreitos do judaísmo.

Como João Batista e Pedro, também Paulo morreu martirizado pelo ano 67.

O final de junho é enriquecido pela celebração dos três insignes Santos tão venerados pela piedade cristã. A sensibilidade popular, ao seu modo, os cultua e celebra sem maiores sofisticações. Mas é desejável que neles procurem e descubram modelos de vida, de santidade, de apostolado. Cada um dos três Santos recebeu graças santificadoras e correspondeu a elas ao seu modo. É lícito e bonito que agora, as quadrilhas levem alegria a todos, alimentem a vida comunitária e fraterna, e que não falte o quentão, a pipoca, a batata doce e mais guloseimas do amor. Que todos neles encontrem modelos de acolher e corresponder às graças divinas.