Texto de P. Mauro Odorissio, CP
Que os bons leitores permitam ser localizados no momento em que vivo e escrevo. O Brasil acabou de vencer a Colômbia. Assisti parte do jogo com o Ir. Fernando e com o Pe. Alcides. Passara o dia ultimando um pequeno livro que me foi pedido pelo Provincial. Depois de uns vinte dias fora, a serviço, regressei, logicamente encontrando meus trabalhos acumulados. Estou correndo contra o relógio, pois vários me esperam. Sem contar os que chegam sem ser esperados. Nesta tarde a Editora Loyola me pediu que fizesse a revisão final de um de meus livros que deverá ser publicado brevemente. O trabalho chega sem pedir licença!…
Estava envolvido em minhas atividades e o Pe. Alcides bateu à porta de meu quarto perguntando: “está ouvindo?!”. Naquele momento passavam carros tocando buzinas e cornetas, pessoas gritando e bombas que espoucavam cá e lá, celebrando a vitória.
Sim! disse eu. E nem poderia negar. O barulho era bastante audível.
Mas não era àqueles rumores que ele se referia. Não! Disse. Escuta essas vozes.
Abreviando: do pátio frontal ao salão de pastoral, portanto, quase sob a janela de meu quarto, subiam as vozes de irmãos e irmãs pertencentes ao AA (Alcoólicos Anônimos) ou NA (Neuróticos ou Narcóticos Anônimos). E ajuntou: eles não estão festejando com os outros.
Pe. Alcides recordou-me que, certa ocasião, no Rio, ele lamentara comigo que alguns membros desses grupos o perturbavam nos estudos. Na ocasião ele era teólogo. E relembrou que eu lhe contara o fato acontecido no Rio, onde morávamos.
Algum tempo antes eu procurara e acolhera esses grupos, na Paróquia, pois o trabalho deles é nobre e precisa ser conhecido. Eles eram uns dos “meus queridinhos”.
Tomo a liberdade de passar para vocês o que falei ao Pe. Alcides, e que ele me recordou. É prazer e alegria compartilhar, informalmente com os bons leitores o que foi considerado. Noite de 25 de dezembro, lá pelas 19h00, tocaram a campainha. Estranhei, pois imaginava todo mundo recolhido em casa. Quem sabe é caso de doente, imaginei. Não! Era o responsável por um dos referidos grupos. Queria a chave do Salão de Pastoral; era dia de reunião e lá estava ele para receber os colegas.
Perante minha admiração, acrescentou: nestes dias festivos é comum colegas, principalmente os que não têm família ou que passam por alguma crise, ficarem depressivos, terem quedas e precisarem de apoio. Este fato se deu, no mínimo, há uns quarenta anos e me tocou profundamente ao ver alguém deixar a sua família para atender irmãos necessitados.
Pe. Alcides e eu comentamos por uns momentos como milhões de brasileiros comemoravam a vitória da seleção sobre os colombianos. Cantavam, passeavam, gritavam, soltavam bombas, comiam e bebiam. Nesse ínterim, porém, algumas pessoas, privando-se da “alegria nacional”, estavam a postos para a saúde pessoal, para a de outros colegas, para os familiares de todos os irmãos em tratamento. Tudo isso é para o bem da sociedade; ela também lucra com a recuperação desses irmãos doentes.
Na verdade, enquanto muitos festejam, se divertem e passeiam, há irmãos que, vigilantes, estão a postos para se beneficiarem e para ajudarem colegas mais necessitados.
Vou, logo mais, voltar para os trabalhos que me esperam. Agora conto com menos tempo, mas estou com o coração em festa por ter vivenciado exemplos a demonstrar que nem tudo está perdido, que há muita bondade na face da terra.
Os meus trabalhos, agora mais acumulados, com certeza serão melhor enfrentados, pois me sentirei fazendo parte de um grupo de abnegados que são incentivo, estímulo e entusiasmo.
Praticamente, neste artigo, fujo de meus temas usuais: bíblicos, teológicos numa palavra. Mas, este não é menos religioso do que os demais. Cada vez que o ser humano é tratado com dignidade, assim está sendo tratado o templo vivo de Deus, um verdadeiro filho do Pai Celestial.
No corpo do artigo falei que os irmãos e irmãs que freqüentam os grupos precisam ser conhecidos. Mas, conhecidos, também, precisa ser o trabalho por eles desenvolvidos. É só entrar em contado com a Secretaria Paroquial.