O sentido da missa diária

Texto de P. Alcides Marques, CP

Nós católicos temos um mandamento (da Igreja) que exige a nossa participação na missa aos domingos e festas de guarda. Por domingo, seguindo a tradição judaica, entendemos não só o dia em si do domingo, mas a véspera (sábado) desde o meio-dia. O problema do mandamento é que ele incentiva uma distorção da prática religiosa. A pessoa vai à missa por obrigação exterior; alguns até por medo. E aí a participação fica apenas formal (fisicamente presente), não um momento forte de encontro com Deus e os irmãos e irmãs.  É urgente que as nossas Igrejas façam uma catequese a respeito do sentido do domingo e da participação semanal na missa. Ninguém deve ir à missa por obrigação, mas também é estranho que um cristão não sinta a necessidade de um encontro comunitário semanal com Deus e os irmãos (ãs). Mas existem alguns cristãos que vão além; que participam da missa todos os dias ou quase todos os dias. Qual seria o sentido dessa prática espiritual?

Não é grande o número de católicos que participam frequentemente da missa. Poderia ser bem maior. Mas existem alguns que participam. Talvez você seja um, ou gostaria de ser um. Qual motivo? Tenho certeza que por vários motivos. Talvez a maioria o faça por hábito. E o hábito é uma espécie de “vício” bom. No entanto, podemos ir além; em direção a um sentido mais nobre.

Antes de tudo, vamos nos colocar desde o ponto de vista de quem se sente incomodado por essa prática. Eles (as) gostam de dizer: você está com alguma doença, algum problema psicológico, se acha muito pecador (a), virou beato (a), quer ser melhor do que os outros, que ganhar o céu mais fácil e assim por diante. Muitas vezes, você que participa fica confuso (a) e não sabe o que responder. Não só aos outros, mas a si mesmo (a).

Reflita comigo: nós cristãos vivemos “segundo a graça” e não segundo a Lei. Quem vive segundo a graça, age movido pela graça. Então você que participa todos os dias da missa, não participa por motivo algum. Isso mesmo motivo algum. Você vem porque a graça de Deus te leva a ir. Não é por causa de algum interesse particular. E poderia dizer como a canção do P. Zezinho: “pela graça de Deus eu sou quem sou”. Ponto final. Não precisa de nenhuma outra explicação.

Podemos acrescentar um segundo impulso. Os benefícios espirituais que a prática da missa diária traz aos fieis. A vida corre com uma maior leveza. A pessoa fica mais serena e tranquila diante da vida e de seus problemas (pesos). Assim sendo, poderíamos dizer também: “eu vou à missa porque me faz bem”. A graça me conduz e me faz bem. Pronto. Assim chegamos ao sentido espiritual da missa diária.

Uma palavra toda especial sobre a comunhão frequente, desdobramento natural de quem participa da missa todos os dias. Não seria nada espiritual participar da missa simplesmente com o interesse de receber a comunhão. A comunhão eucarística isolada da missa só tem razão de ser para os enfermos. A missa é um todo e a comunhão é parte deste todo. Não podemos nos esquecer do alimento da Palavra. E assim a participação ativa, plena e consciente da missa é a condição fundamental para uma correta recepção da comunhão eucarística.