A vida e o absurdo

Texto de P. Alcides Marques, CP

No dia 11 de agosto de 2014, recebemos a notícia da morte de Robin Williams, ator que estrelou excelentes filmes como “Sociedade dos poetas mortos”, “Uma babá quase perfeita” e “Patch Adams – O Amor é Contagioso”. Soubemos que ele cometeu suicídio. E a pergunta que ficou em nossas mentes era a seguinte: como é que uma pessoa que interpretou papéis tão marcantes e humanos foi vítima de mais esta cilada da vida? Ele não sabia tanta coisa boa sobre o viver, como é que tomou uma decisão desta natureza? Soubemos que ele enfrentava uma terrível depressão. E provavelmente foi esta depressão que o levou ao suicídio. Acredito no valor dos remédios antidepressivos, mas os mesmos não podem sozinhos resolver os dilemas da vida humana, sobretudo aqueles que levam as pessoas a não suportarem mais viver. Precisamos refletir mais sobre esta questão. É difícil, mas vale a pena.

O filosofo existencialista argelino Albert Camus (1913-1960. Pronuncia-se “Camí”) escreveu um interessante texto filosófico denominado “o mito de Sísifo”. O seu objetivo era propor a chamada filosofia do absurdo, ou seja, a constatação de que a vida humana não tem sentido algum. Assim sendo, no inicio de sua obra, coloca o suicídio como o problema central da filosofia. Mais concretamente, ele queria dizer que se a vida não tem sentido só nos resta duas alternativas: ou aceitar viver sem sentido ou desistir de viver. A opção dele é pela primeira alternativa: a vida não tem sentido, mas mesmo assim vale a pena viver.

No final de seu texto, compara a condição humana (“absurda” para ele) com a situação de Sísifo, personagem da mitologia grega, condenado a repetir sempre a mesma tarefa de empurrar uma pedra até o alto de uma montanha, sendo que, toda vez que estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida. Sísifo foi condenado a repetir eternamente o mesmo procedimento. Para Camus, Sísifo é o símbolo maior da condição humana. E termina o sua obra com a seguinte afirmação: “é preciso imaginar Sísifo feliz”.  Feliz porque aceitou o absurdo de uma vida sem sentido. Feliz porque não foi em busca de nenhum sentido para a vida. Simplesmente feliz.

Nós cristãos não podemos aceitar tal concepção. A vida humana tem sentido e tem sentido em qualquer circunstância. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Cristo é o sentido maior de nossas vidas. Aprendemos com Ele a viver plenamente, inclusive nos momentos mais difíceis da vida. “Tu tens, Senhor Jesus, a última palavra. E nós apostamos em Ti” (Missa dos Quilombos). Nos momentos em que nós não conseguimos experimentar um sentido para a vida, o problema não está na vida, mas em nós mesmos que não estamos conseguindo redimensionar a nossa existência frente a novos desafios que continuamente aparecem.

O problema de nossa cultura é que ela incentiva o ideal do sucesso, da grandeza, do poder, da beleza. E quando não podemos mais sustentar estes ideais propostos pela cultura dominante, ficamos com o senso de que a vida perdeu o seu sentido. Mas a vida nunca perde o seu sentido. O que perdemos são os ideais propostos pelo mundo em que vivemos. Ao contrário de Camus, Sísifo não era feliz; exatamente porque a sua vida não tinha sentido. E viver sem sentido não é viver.