Texto de P. Alcides Marques, CP
Neste dia 22 de agosto, a liturgia católica celebrou a festa de Nossa Senhora Rainha. A festa litúrgica foi impulsionada por Pio XII como desdobramento da Assunção de Nossa Senhora. Lembremos que o mesmo Pio XII, em 1950, proclamou o dogma da Assunção de Nossa Senhora. Por isso, a festa é celebrada uma semana depois da Assunção. Trata-se de uma celebração de significado menor, pois deriva da festa maior da Assunção.
Na proclamação do dogma da Assunção, Pio XII afirma que “a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”. Isso mesmo: corpo e alma, totalidade. Aquilo que para todos nós é esperança: a ressurreição final; em Maria, é realidade. Por um especial privilégio, Maria já ressuscitou plenamente, ou seja, não está à espera da ressurreição final.
Quando afirmamos que o dogma foi proclamado em 1950, não estamos querendo dizer que a Igreja passou somente a partir desta data a acreditar na Assunção. Desde a antiguidade, os cristãos partilhavam tal concepção. O que o papa Pio XII fez foi declarar tal sentimento de fé um dado essencial da vida da Igreja, um dogma. O corpo que deu forma ao corpo de Cristo não poderia ser submetido à corrupção da morte. E isso não por causa de um privilégio “em si”, mas por causa de Cristo. Não podemos nunca nos esquecer disso: o privilégio de Maria decorre de sua missão: ser a mãe de Jesus (e ser a mãe da Igreja). “Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lc 1,48), cantou Maria no Magnificat.
Uma conclusão importante é que a Assunção de Maria expressa a sua presença amorosa em nossas vidas. Recordemos uma pequena parte da canção composta por Waldeci Farias: “Sendo normal num lar, Deus quer também na Igreja uma figura de mulher que proteja os cristãos”. É aqui que reside a maior riqueza do dogma da Assunção: a nossa convicção de que Maria está presente na vida da Igreja e de nós cristãos. Sobretudo nos momentos mais difíceis da vida, ela se faz presente para nos consolar, proteger, animar. Maria é a grande tradutora da presença materna de Deus em nossas vidas.
A festa de Nossa Senhora Rainha, já dissemos, é consequência da Assunção. Mas, precisamos tomar um cuidado especial para não empobrecermos o significado teológico de nossa mãe espiritual. A ideia de rainha pode nos induzir a considerar Maria como uma mulher grandiosa, poderosa, inacessível. Não podemos esquecer que a Maria da Bíblia é uma mulher simples, pobre, humilde. “Olhou para a humildade de sua serva” (Lc 1,48). Não somos nós que devemos engrandecer Maria, pois é na sua simplicidade que Maria é quem é. Uma espiritualidade mariana que esconde o seu lado humano, não nos ajuda concretamente.
Tomando o cuidado acima, podemos então afirmar que Maria é rainha sim. É rainha de nossas vidas, na medida em que reina em nós. Reina no sentido de nos colocar em sintonia com Cristo.
Maria nos leva a sermos fieis à Palavra. Maria nos ensina a dizer sim à Palavra. Mais ainda: ela nos sustenta na fidelidade à Palavra. “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa Palavra” (Lc 1,38). E, além da fidelidade a Palavra, Maria nos leva a gerar Cristo ao mundo. Tal como a mulher do apocalipse (cf Ap 12), a Igreja precisa gerar Cristo ao mundo, mas o poder do mal (dragão) sempre buscará impedir tal missão. Maria é aquela que sempre vai nos manter fieis à nossa vocação cristã. O Cristo que recebemos na Eucaristia precisa ser partilhado, testemunhado, gerado. Ele não deve ficar somente dentro de nós. Quem tem Cristo dentro de si deve saber como partilhar este mesmo Cristo, sobretudo com os pobres e sofredores. Como Maria fez por ocasião da visita a sua prima Isabel. Salve Nossa Senhora Rainha!