Natal: Deus entre nós e em nós

Texto de P. Mauro Odorissio, CP

No dia 27 de novembro, nos solicitaram um artigo sobre o Natal. O tema pode ser abordado de diversas fontes, sob vários aspectos, de distintas maneiras e variegada profundidade, etc.

No dia seguinte, 28 de novembro, trabalhávamos a revisão de nosso livro de fantoches, objetivando levar as Escrituras de maneira mais fácil e atraente às crianças. Visamos fazer com que a Palavra de Deus chegue o mais eficaz e facilmente aos corações infantis. Temos vários trabalhos publicados a respeito e elaboramos outros, cientes de que estamos chegando atrasados. Isso, quando chegamos a elas.

Numa manhã revendo a referida obra, refletíamos Jo 1,1-18, texto do Natal. Trabalhávamos uma nossa “história” sobre Giovanni, artista que esculpia bonecos para as crianças às quais tanto amava.  Ótimo escultor, tudo fazia com amor. Então nos perguntamos: por que não usar o material adaptando-o aos leitores adultos aos quais escrevemos? Afinal, é bom descobrir o resto de criança que pulsa em nós. Tomamos a liberdade, então, de reapresentar algo de nossos escritos aos bondosos leitores. Talvez facilite a reflexão natalina.

Vamos à história. As crianças amavam Giovanni e as obras que saíam do seu cinzel e de seu coração. Brincavam com os bonecos, achavam-nos bonitos, mas os trocavam logo por outras brincadeiras.

O bondoso Giovanni não se aborrecia. Para ele as crianças sempre tinham razão. Interrogava-se e, com a delicadeza de seu coração perguntava a elas o que faltava nas obras que esculpia.

Na verdade, nem as crianças sabiam por que bonecos tão bonitos não encontravam guarida nos corações infantis. Tossiam, pigarreavam e deixavam compreender que nas esculturas faltava algo. Os bonecos eram lindos, mas eram frios; parecia faltar-lhes vida, coração.

Giovanni esculpiu, então, o melhor boneco que podia e abriu no peito um espaço para nele colocar um coraçãozinho. E foi à procura de madeira de lei, preciosa, para confeccionar o coração.

Neste ínterim, apareceu um casalzinho de tico-ticos cantando: mariquinha tiu tiu. Cantaram, saltitaram e se acomodaram no peito do boneco, bem no local onde seria colocado o coração. Os passarinhos eram recém-casados e procuravam lugar acolhedor para morar.

O seu Giovanni vibrou e, com ele as crianças. Todos facilitaram a vida dos passarinhos: colocavam água, comidinha, assim como capim e algodão para que confeccionassem o ninho. A cada ovinho botado era aquela aclamação. Chegou-se ao delírio quando deles saíam os filhotinhos. Eram aplaudidos, recebiam nomes. A ração de comidinha aumentou. Os tiquinhos viram seus trabalhos facilitados.

Para as crianças e, também para Giovanni, aquele boneco se tornou o boneco. Tinha vida, alma, coração e sentimento.  Embora de madeira, para todos passou a ser alguém, passou a ser “gente”. Aconteceu sintonia e comunhão entre ele e o seu criador Giovanni, entre ele e a crianças.

Entre outras passagens bíblicas que falam do Natal, em Jo 1,1-18 se diz que no princípio era o Verbo ou a Palavra, o Deus que tudo criara. Esse Verbo se fez carne, a saber, tornou-se também humano como nós, menos no pecado (Hb 4,15). Veio ENTRE nós. Tornou-se, então o Emanuel, o Deus conosco (Mt 1,23). Veio morar em nosso meio, entre nós.

Mas isso não era tudo para o coração apaixonado do Senhor: além de ser o Deus-conosco, quis ser o Deus EM NÓS. Acomodou-se em nós, como os tico-ticos no peito do boneco de Giovanni. Com isso, aconteceu um salto qualitativo no ser humano que se tornou morada divina e, mais do que isso, foi-lhe dado se tornar filho de Deus. Esse é o grande mistério do Natal. Esse tesouro deve ser trabalhado, vivenciado no dia a dia. E muito refletido, sobremaneira no Natal.

Se assim fizermos poderemos, de verdade, desejar uns aos outros o mais RICO e SANTO NATAL.

PS – A “historiazinha” está em nossos esgotados livros “A mim, as crianças”, Ano A, Edições Ave Maria e em “Na hora de explicar o Evangelho”, Ano A, Ed. Palavra e Prece. Obras em reelaboração.