Texto de P. Mauro Odorissio, CP
Os últimos acordes das festas do final e do início de ano não se foram de todo e os primeiros estrépitos do carnaval já se fazem ouvir. O “Adeus ano velho e feliz ano novo” com o espocar dos champanhas ainda ressoam, e os sons das cuícas e dos pandeiros já se fazem sentir. O papai noel ainda despe sua ridícula fantasia e os carnavalescos vestem as de tantas ilusões. Isto quando se vestem.
Estas considerações introdutórias podem suscitar diálogo parecido com algum de nossos leitores:
– Por que esse arrazoado entre Natal e carnaval?
– Na verdade, não estou pensando em carnaval, mas na Quaresma que o segue.
– De acordo. E o que isso tem a ver com o papai noel (fazemos questão de escrever com letra minúscula) e com o coelho, conforme o título do escrito?
– Você não percebeu, ainda, nenhum vínculo entre o que acontece no Natal e na Páscoa?
– No Natal celebramos o nascimento de Cristo. Ninguém duvida disso.
– Ninguém duvida? Antes do Natal, Cristo foi nomeado no comércio, na publicidade, nos meios de comunicação e na maioria dos lares que se denominam cristãos? E o que se falou do tal papai noel?
– Sim, o Pap… quero dizer, o papai noel foi o onipresente e Jesus, o grande ausente. Mas você não está exagerando, com preconceito?
– Até pode ser. Mas, tudo faço para ser amigo de Platão, mas muito mais amigo da verdade.
– Ah! Estamos chegando ao denominador comum, estamos acertando os passos.
– Não de todo. Partamos de um dado: é ou não, que no Natal, Jesus foi desbancado pelo tal… papai noel?..
– Sem dúvidas.
– Então, começo a acreditar num artigo que li. Nele se afirmava que a partir de 1931 um determinado e bem conhecido refrigerante começou a impor o, atípico e estranho personagem papai noel vestindo roupa vermelha, como a cor do título da citada bebida. O tal personagem, como sabe, nada tem a ver com a nossa cultura, assim mesmo foi tomando todo espaço…
– Posso parar e pensar; mas a história de coelho nada tem a ver com o Natal.
– Gostei da observação. Mas, o que fizeram com o Menino Jesus, deletando-o do Natal e substituindo-o pelo o esdrúxulo papai noel, estão fazendo com o Ressuscitado; está sendo substituindo pelo coelhinho da páscoa. Eta bichinho estranho: bota ovos pascais. Se ao menos fosse uma coelhinha.
– Agora não me parece coincidência. Está ficando claro que tudo foi bem programado, orquestrado. Isso é muito grave.
– Grave? Gravíssimo. É a descristianização planejada do cristianismo, é a turma da morte de Deus.
– Agora eu não “morei”. Por que a situação é “gravíssima”?
– Porque nem mesmo cristãos engajados, onscientes, praticantes, deram pela coisa.
– Bem! Isso pode ser distração.
– Distração? Oxalá fosse. Ao menos seria mal menor Quando em casa some um quilo de batata, é aquela alvoroço! Quem foi? A cozinheira, a faxineira, o vizinho? Até o FBI entra em ação.
– “Perai”. Aonde você quer chegar? “Tá” indo longe demais…
– Não estou! Roubaram Cristo do Natal e o entregaram ao tal papai noel. Fazem o mesmo com o Ressuscitado. E ninguém percebe o roubo. É sinal que Cristo vale menos do que a batata.
– Agora eu me rendo. E daí? Não podemos ficar sem fazer nada.
– Sim. Não podemos ser ingênuos como gado tangido para o corte. Reassumamos os nossos valores. Ninguém é obrigado a aceitar Cristo, mas que ninguém invada os corações, os lares, as nossas vidas. Assumamos a Quaresma para o crescimento espiritual, para celebramos eficazmente a Semana Santa. Que no lugar do Ressuscitado coloquem o suspeito coelhinho que bota como se fosse galinha. Conduzamos sem sermos ridiculamente conduzidos. Que em Cristo, construamos a nossa história. Mãos às obras e Santa Quaresma em vista da celebração pascal.