Texto de P. Mauro Odorissio, CP
“Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1). A súplica do discípulo não poderia ser mais profunda e real. Quem mais e melhor do que Jesus para ensinar verdadeiramente a rezar e a rezar verdadeiramente a única e verdadeira oração?! Só se reza verdadeiramente em Cristo. “Nem todos aqueles que dizem Senhor, Senhor, entrarão nos reino dos céus” (Mt 7,21). Então, a oração vem, fica e vai além da boca.
Jesus não ensinou o Pai Nosso como os nossos pais fizeram conosco. Não fez ninguém decorar palavra por palavra a serem repetidas de cor. Seria grande equívoco pensar assim. Não passou prece prontinha, impressa e empacotada com papel de presente e fita colorida, cabendo a nós desembrulhá-la, usando-a oportunamente e, quem sabe, como se fôssemos disco. Foi revelando que não somos apenas criaturas de Deus, mas também, filhos. O relacionamento criatura- criador é bem mais limitado do que a de filho ou filha para com os pais: aqui deve haver vínculo amoroso acima de tudo.
Quando alguém se relaciona com Deus como filho ou filha, descobre, ainda, que outras pessoas têm com ele o mesmo vínculo. O Senhor é concebido como fonte amorosa de todos. Logicamente conclui que entre tais pessoas deve acontecer a fraternidade. Ela acontece, em profundidade por meio do vinculante amor fraterno. Neste especial amor, o Senhor se faz presente (Mt 18,20).
Tais ensinamentos e outros mais, feitos no decurso da pregação do Mestre, foram sintetizados no Pai Nosso. Portanto, o ensinamento do Senhor foi sendo vivido e depois, transformado em oração.
Nossa afirmação não é gratuita; tanto assim que, em Lc 11,2-4, o Pai Nosso tem cinco invocações, ao passo que em Mt 11,2-4, são sete, uma vez que esse número tem especiais sentidos para os judeus.
E para mostrar que há Oração e simulacro de oração, o Mestre condenou a feita pelos fariseus hipócritas que pensavam rezar e não faziam nada mais do que balbuciar palavras (Mt 6,5-7).
Iniciamos a quaresma, tempo especialmente dedicado à esmola, ao jejum e à oração. E oração, antes de tudo, é graça: é adequar o nosso ser, o nosso querer e o nosso viver em vista de profunda comunhão com o Senhor a ponto de afirmar: “já não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
A Igreja, mãe fecunda, apresenta-nos plêiades de orantes a serem tomados como mestres. Entre tantos, destacamos S. Paulo da Cruz, o maior místico do século. Começou a rezar no colo materno de Ana Maria até atingir os “esponsais místicos”, grau máximo que poucos santos atingiram.
Em vista da nossa vida oracional, tomamos a liberdade de propor, nesta quaresma, nosso recente livro “A oração de e em São Paulo da Cruz”. Nele, é possível descobrir os passos palmilhados pelo Santo que se abeberou em grandes mestres (S. João da Cruz, S. Tereza D´Ávila, S. Francisco de Sales, Taulero) e, de modo especial, na Sagrada Escritura e em Cristo Crucificado.
Tais fontes se fundamentaram no amor do Pai que não poupou o próprio Filho por nós (Rm 5,6-10), no Cristo que se “despiu” da divindade, aniquilou-se e assumiu nossa humanidade (Fl 2,6-11), ao ponto de se fazer, por nós, “maldito de Deus” (Gl 3,13), amando-nos “até o fim” (Jo 13,1).
O Santo foi se deixando plasmar pela divindade e, a partir de tão profunda comunhão com Deus, transformou-se em grande missionário. O Senhor que o atraía centrípeta e irresistivelmente, impregnado-o pela divindade, enviou-o centrifugamente aos irmãos. Ele tinha então, realmente algo a dizer e a fazer no mundo pelo bem de todos.
O objetivo último do livro que está sendo oferecido aos bondosos leitores, é fazer com que, realmente se caminhe na oração, passando de estágios menos para outros mais perfeitos. Que seja crescente a vida em comunhão com Deus. E que o ir sempre e cada vez mais ao Senhor, transforme o orante em apóstolo, em agente transformador do mundo.
O livro está sendo colocado à disposição dos interessados, precisamente no tempo quaresmal. Assim, todos poderão melhor e mais aprofundadamente vivenciar o mistério pascal, na Semana Santa. E nossa Comunidade se tornará cada vez mais passionista.