A religião faz bem

Texto de P. Alcides Marques, CP

Fé e religião são duas experiências distintas, mas integradas. É possível fé sem religião e religião sem fé. Traduzindo melhor: uma pessoa pode acreditar em Deus e buscar viver segundo o que entende ser a vontade deste mesmo Deus, sem frequentar Igreja nenhuma: seria a fé sem religião. Outra pessoa pode ter uma prática religiosa intensa – reza bastante, vai a Igreja etc. -, mas uma vida em profunda dissintonia com Deus, uma vida que em nada diferencia de quem não crê ou não é cristão: seria a religião sem fé. É logico que o segundo caso é bastante problemático, pois aponta para o farisaísmo. Mas, por ora, vamos refletir sobre o primeiro caso, o daquele que diz ter fé sem sentir a necessidade da prática religiosa.

A religião pertence à esfera dos meios e não dos fins. Com isso, queremos dizer que a religião não tem uma finalidade em si mesma, mas aponta para algo maior do que ela: a fé, ou talvez melhor, Deus. O importante mesmo não é ser religioso, mas crer. O objetivo da religião é ajudar na manutenção e desenvolvimento da vida de fé. Mas observe que não estamos dizendo que a religião é desnecessária. Ao contrário, a religião é necessária para a vida de fé. Embora não seja mais importante que a fé, a religião é necessária para alimentar a fé.

O farisaísmo é uma deturpação da religião, pois faz da prática religiosa um fim em si mesmo. Poderíamos afirmar que o grande perigo que as pessoas religiosas correm é o de transformar a religião num fim. O de se iludir que a mera prática religiosa tenha um valor próprio. Muitas vezes, recebemos críticas de pessoas não praticantes que dizem não enxergar em nós nenhuma diferença das outras pessoas. E algumas vezes, tem razão. Mas, sem religião a fé não vai longe.

Depois da II Guerra Mundial, alguns teólogos defenderam a tese de que nós não precisaríamos de religião, mas da fé. Na época, eles tinham razão, pois as religiões institucionais não conseguiram evitar, por exemplo, a ascensão do nazismo e o extermínio em massa de pessoas inocentes. Mas mesmo assim, a história subsequente demonstrou que a religião não só tinha sentido, como poderia se tornar propulsora de uma vida melhor para todos.

Algumas pessoas dizem o seguinte: eu creio em Deus, faço as minhas orações, mas não preciso de Igreja. Dizem até mais: que as pessoas que vão à Igreja não são coerentes, fraternas etc. Mas será mesmo? Quem é que no mundo propaga a fé em Deus e o modo de rezar? Se não houvesse a religião, como é que as pessoas saberiam quem é Deus? Simplesmente não é possível viver a fé sem uma prática religiosa. Repetimos mais uma vez: a fé é mais importante do que a religião, mas a fé precisa da religião. Nada de falsas oposições. Não negamos a incoerência de vida de alguns de nós, mas a culpa não é da religião.

A religião é um meio, mas não é um meio desprezível. Nós precisamos da religião para alimentar a fé. Precisamos da missa dominical (até semanal), da vida de comunidade cristã, das pastorais, da religião na família etc. Se for preciso, vamos purificar e melhorar a nossa prática religiosa, mas sem abandonar a religião. A religião é boa e faz bem. Bem para o corpo, para a mente, para a alma, para o espírito. Vamos preservar com carinho esta grande conquista de nossas vidas. O nosso tesouro. A religião faz mais bem do que mal. Pelo menos no que diz respeito ao cristianismo. Não tenha medo de se definir como uma pessoa religiosa. Você não vai se arrepender. Nunca.