Na Profissão de fé, proclamamos: ”creio em Deus Pai Todo Poderoso”. Mas existem problemas com o “Todo Poderoso”. Tanto por parte dos que combatem a fé em Deus quanto por parte dos que acreditam em Deus. Comecemos pelos que acreditam em Deus. Alguns padres têm feito uma sutil substituição na conclusão do ato penitencial da missa. Em vez de dizer “Deus Todo Poderoso tenha compaixão de nós…”; dizem: “Deus Todo Misericordioso tenha compaixão de nós…”. Essa substituição estaria revelando o que? Uma dificuldade para lidar com o conceito de poder? Deus é ou não é Todo Poderoso para nós cristãos?
Deus é todo misericordioso, todo amoroso etc. Mas a dificuldade para o uso do todo poderoso vale também para misericordioso, amoroso etc. É por isso que compensa refletirmos um pouco sobre o todo poderoso e buscar entendê-lo de uma maneira adequada, sem medo. Se a expressão está no Creio, então ela tem um valor que vai além de qualquer tentativa de substituí-la pelo silêncio. Deus é todo poderoso e se não fosse não seria Deus. Ponto final.
Vamos agora lidar com as objeções dos que não conseguem ou não querem acreditar em Deus. Eles tentam colocar em contradição a ideia de poder de Deus. Por exemplo: “Deus poderia criar uma pedra tão pesada que nem ele mesmo possa carregar?”. Se respondermos que pode, eles dirão que não é todo poderoso, já não consegue carregar a pedra; se respondermos que não pode, eles também dirão que não é todo poderoso, já não pode criar a pedra. Percebe que se ficarmos fugindo do “todo poderoso”, estaremos dando munição aos adversários da fé? Mas como enfrentar esta armadilha mental? Tem jeito?
A questão acima revela uma contradição, um absurdo lógico. Poderíamos acrescentar outras: “um círculo quadrado”; “um solteiro casado”; “um pau de ferro” e assim por diante. Não tem como pensar como real algo que seja contraditório consigo mesmo. Se um solteiro é alguém que não é casado, como seria possível um solteiro casado? Isso quer dizer que não tem como pensar Deus em contradição com a própria realidade das coisas da qual Ele mesmo é o fundamento. A resposta à objeção acima é que não há resposta, pois a pergunta tem uma contradição lógica. Deus não pode criar algo maior do que Ele mesmo, pois este algo seria deus. Isso não é uma contradição?
Assim sendo, quando afirmamos que Deus é todo poderoso, estamos afirmando que ele é todo poderoso em tudo aquilo que não cai em contradição lógica (mental). Certo? Tá difícil de entender? Releia com calma o texto.
Vamos avançar um pouco mais e apresentar uma objeção bem mais consistente e perigosa: é aquela que coloca em contradição a bondade e o poder de Deus. Vejamos. Deus pode ou não pode evitar o mal? Se pode, não é bondoso, pois não evita. Se não pode, não é poderoso, pois não pode. Você teria dificuldade em responder a este dilema do mesmo jeito que responderia os outros, dizendo que é uma contradição lógica? Parece que sim.
E por isso ficamos com uma solução meia boca, intermediária. Respondemos que Deus pode evitar o mal, mas permite o mal. Ou seja, salvamos o “todo poderoso” à custa da bondade. Não seria melhor dizer que Deus não pode evitar o mal? Mas você poderia me dizer: “eu não consigo imaginar Deus assim”. Então, devo concluir que seu modo de pensar em Deus é igualzinho ao dos adversários da fé e dos padres que mudam o ato penitencial.
Vamos concertar o nosso pensamento? É claro que Deus poderia evitar sempre o mal, mas para isso o mundo deveria ser diferente do que é e o ser humano não poderia ser livre. Então é sim contraditório pensar um Deus que pode tudo e a todo o momento. Ao criar o mundo, as criaturas, os seres humanos, Deus decidiu ser nosso parceiro e assim somos com Ele responsáveis pelo mundo. Ao criar o mundo, Deus renunciou, em parte, ao seu poder. Poderíamos concluir nossa reflexão dizendo o seguinte: Deus é todo poderoso no amor. Se Deus é Amor (1 Jo 4,8), ele é poderoso para amar. Assim é que o mundo foi criado: por amor e para o amor.