Texto de P. Alcides Marques, CP
Existe um critério para se saber se uma oração é cristã ou não? Existe. E este critério é o próprio Jesus Cristo. O Mestre dirige-se a Deus – Primeira Pessoa da Santíssima Trindade – como Abba. A palavra “Abba” quer dizer papai. Isso mesmo. Uma linguagem de crianças e também de adultos para se dirigir carinhosamente ao próprio pai. Para o judaísmo seria uma irreverência usar este termo em relação a Deus. Se nós cristãos chamamos a Deus de Pai é porque Jesus nos autorizou a chama-lo desta forma.
Jesus é homem de oração. O evangelho de São Lucas é o que mais apresenta Jesus em oração (Lc 3,21; 6,12; 9,18; 9,28; 22,31ss; 23,34). Basicamente, a oração de Jesus é oração pessoal: Jesus e o Pai. Um diálogo de uma pessoa para com outra pessoa. Oração é diálogo com Deus.
Para os seguidores de Jesus não é qualquer oração que pode ser chamada de cristã. Uma oração só é cristã se feita segundo os critérios apresentados pelo Mestre. Primeiramente, vamos percorrer os critérios de uma falsa oração.
Fariseu e publicano (Lc 18,11ss): oração como autocontemplação. O fariseu reza para si mesmo. O seu objetivo é alimentar o seu ego, ou seja, manifestar a sua pretensa superioridade diante do publicano.
Rezar em pé na sinagoga (Mt 6,5s): oração como exibicionismo. O objetivo último da oração do fariseu é ser visto e admirado pelos outros. A sua oração é falsa porque não visa atingir propriamente a Deus, mas as outras pessoas. O que ele quer mesmo e se engrandecer diante das outras pessoas.
Multiplicação de palavras (Mt 6,7s): oração como sucessão de palavras. A importância é colocada na quantidade de palavras e não na atitude de entrega. Ausência de interioridade (rezar com o coração). Não são as palavras ditas que importam, mas a atitude de se entregar a Deus. É como a música “Romaria” de Renato Teixeira: “como eu não sei rezar, só queria mostrar meu olhar…”.
Senhor, Senhor (Mt 7,21): oração desligada do compromisso com a fraternidade. O problema não é bajular Deus, mas fazer aquilo que lhe agrada. Oração que tenta enganar a Deus com palavras bonitas. Coloque-se no lugar de Deus: o que você pensaria de uma pessoa que só vive te elogiando, mas não faz absolutamente nada que te agrada?
Exploração (Mc 12,38.40): oração como meio de exploração. Oração fingida, com o objetivo de ganhar dinheiro. Para Jesus, tal oração não tem valor espiritual. Quem sabe valor financeiro. Cuidado para não se deixar iludir.
A verdadeira oração cristã é aquela que se inspira no Pai Nosso (Lc 11,1ss). Precisamos entender que o Pai Nosso não é uma oração a mais, mas é a única oração cristã, ou seja, todas as orações cristãs devem ser feitas no espírito do Pai Nosso. O Pai Nosso é, portanto o modelo de toda oração que se pretende cristã. É a oração da confiança (não comercio com Deus) e do compromisso (fazer a Vontade de Deus).
Alguns questionamentos: como anda a sua oração pessoal? Os momentos em que você fica diante de Deus para conversar com Ele e para escutar o que Ele tem a te dizer? Quanto do dia ou da semana você reserva para este diálogo com o Pai?