Nos últimos tempos, temos assistido a uma enxurrada de manifestações, feitas por líderes religiosos, contrárias a determinadas novelas que são exibidas na televisão. Os motivos alegados são vários: excesso de violência, erotismo exagerado, promoção do homossexualismo e assim por diante. A novela “Babilônia” seria um exemplo. As propostas de boicote parecem que estariam dando resultado. Tanto que o conteúdo da novela tem sido suavizado, numa tentativa de deter a queda de audiência.
Os autores têm alegado que a novela é apenas entretenimento, diversão. Mas, tal tese não se sustenta, uma vez que é facilmente perceptível uma preocupação de promover determinados valores através das novelas. Não é que as novelas não sejam entretenimento, mas afirmar que as mesmas não têm nenhum interesse disfarçado seria de uma ingenuidade quilométrica. Devemos ter claro o seguinte: as novelas não são somente diversão, mas têm outros objetivos e estes outros objetivos não são facilmente identificados. É preciso, portanto, uma atenção bastante apurada para perceber os interesses escondidos por trás das novelas.
Mesmo assim, os líderes religiosos não tem o direito de tratar os cristãos como “boiada”. No mundo em que vivemos, as pessoas – inclusive os cristãos – têm acesso direto às informações necessárias a uma tomada de posição frente as alternativas que lhes são propostas. Assim sendo, a melhor postura da Igreja não é promover boicotes ou ficar dizendo que assistir novela é pecado ou coisa parecida. O caminho está na conscientização dos cristãos.
É lógico que padres e bispos têm todo o direito de formar a consciência dos fieis. Mais do que direito, tem até uma obrigação. Mas isso não pode se dar à custa de uma visão infantilizada dos fieis. O cristianismo, pelo menos o proposto por São Paulo Apóstolo, não é a religião da lei. É a religião do amor e da liberdade. Será que os católicos não têm condições de discernir o que é melhor para si e para suas famílias? Será que precisam que alguém fique toda hora dizendo o que devem e o que não devem fazer? Não seria isso um cristianismo farisaico, legalista?
Mas afinal de contas, pode ou não pode assistir novela? A minha opinião particular é que a maioria das novelas (não só da Globo) não merece ser vista por nós cristãos. Não tenho condições de dizer sobre todas as novelas e para todos os cristãos. Por isso mesmo, a minha consciência não permite que eu diga que você não pode assistir novelas. Este discernimento é seu. Você é quem tem que decidir se a novela faz bem ou mal. Para isso, precisa consultar a sua consciência, ajudar outros cristãos no discernimento; mas nunca impor o seu ponto de vista. Pode ser que num determinado momento de sua vida, a novela faça mal e pode ser que em outro momento, não represente absolutamente nenhum obstáculo à sua vida cristã. Quem decide é você e o Espírito Santo que está em você.
É pecado mortal? Gente, pelo amor de Deus! Pecado mortal é coisa séria; é ser decididamente contra Deus e contra o amor. Não consigo imaginar que pessoas que participam da vida da Igreja, da Eucaristia, que ajudam afetivamente o próximo estejam em pecado mortal porque estão assistindo determinada novela. Exagero, não?
Para não esquecer, recordo a orientação de São Paulo Apóstolo na carta aos tessalonicenses: “examinai tudo e ficai com o que é bom” (1 Tes 5,21).