O que os leva a tanto?

Texto de P. Mauro Odorissio, CP

Veículos de comunicação (imprensa, radio, televisão), ao apresentar reportagens sensacionalistas de crimes, excitam, diariamente, o sentimentalismo de pessoas sem senso crítico. Detalham sadicamente pormenores suscitando ódio e o desejo de vingança. Tudo sob o falso manto da honestidade.

Mas acredito que, até mesmo pessoas que repugnam tais reportagens, seguem as notícias e os estudos sobre indivíduos e grupos que, em nome de determinado ideal ou crenças religiosas, dão azo e perpetram crimes hediondos. Vítimas, por pensarem ou se comportarem com um mínimo de diferença, são eliminadas. Sem falar nas completamente ignaras de tudo: inocentes, indefesas, crianças que nada tem a ver com nada, são brutalmente eliminadas em nome de falsa virtude. O incrível é que esses grupos ou pessoas perpetram tais crimes sob a falsa égide de zelo religioso, da honestidade e da justiça.

Isto me faz recordar de anedota simples, mas sábia e questionadora. Um grupo de cachorros, perto de uma banca lia manchetes dos jornais: matou a mãe e foi dançar, enforcou uma criança, etc. O cachorro mais velho, com sabedoria canina sentenciou: “não obstante isto, é a nós que eles levam para tomarmos vacina contra a raiva”.

Dos grupos há um numeroso que se proclama “estado” por dominar grande extensão territorial e vários povos. Detém armas sofisticadas e elimina, sem piedade e em espetáculos com decapitações os que pensam diferente e os que nem estavam pensando. Como se fora teatro circense apresenta para o mundo as vítimas ajoelhas; atrás, os carrascos prontos a degolá-las. Entre eles, chegaram a colocar uma criança. Evidencia-se o ódio gratuito e a tara. Os assassinos se julgam o parâmetro do mundo e se apresentam como verdadeiros servidores de Deus, da honestidade e das virtudes.

Além deste grupo maior, existem outros pequenos, ocultos e diluídos pelo mundo todo. Não são menos sanguinários. Deles saem pessoa, geralmente jovens que, carregados de explosivos se implodem em aglomerações com pessoas inocentes. Uma adolescente, com dinamites sob as vestes, as detonou morrendo como mártir, conforme a concepção de tais pessoas. Mas, na verdade, são cruéis assassinos.

É chocante saber que milhares de jovens da Europa e dos Estados Unidos (dizem ser cerca de 20.000), deixam tudo e todos, em suas pátrias, para serem voluntários do ódio e da morte. Como se explica abandonar a família, os estudos, a carreira e o futuro “burguês” só para matar e morrer como “mártir”? Que tipo de martírio é esse, que modo de louvar e servir a Deus assassinando inocentes? Seria patologia, o desejo de ser “herói” e de ir a um paraíso chulo e explorador ao se servir de virgens para egoísticas satisfações sexuais?

Os especialistas nos trazem muitas hipóteses ou explicações. Na verdade, o fenômeno é chocante, levanta interrogações e pede explicações. Que os estudiosos cheguem a conclusões e descubram remédios contra tal barbárie. Essa doença ou tara precisam ser debeladas.

Fica a interrogação: o que os leva a tanto? Devemos, sim, manter acesas as interrogações sobre fenômeno tão brutal e desumano.

Todavia, é demasiado cômodo e questionante interrogar e até condenar os outros sem nos questionarmo-nos a nós mesmos. Até poderia ser grave hipocrisia! Iluminados e vivificados pelo amor de Cristo por nós, o que somos e o que fazemos para que ele reine? Jesus deu a sua vida em favor da humanidade e nos recomendou que amássemos “como ele nos amou” (Jo 15,12-13). Mesmo vivenciados pala graça, como vivemos e irradiamos esse amor? Temos o estímulo, o exemplo de tantos mártires, homens e mulheres, adultos e crianças que também se deixaram imolar, não fizeram o mal a ninguém, ao contrário, testemunharam o quanto e o como Jesus nos amou e quer que amemos Entre milhares de exemplos, temos o de nosso padroeiro paroquial, S. Sebastião.

No primeiro momento, a pergunta foi: “O que os leva a tanto”? Agora nos questionamos a nós mesmos: “Como viver o que nos deveria levar mais a tanto?”.

Que os discípulos de Cristo sejam agentes pacíficos e amorosos para que o mundo seja sempre e cada vez melhor. É o que devemos refletir e agir sob a proteção do padroeiro paroquial S. Sebastião.