Walcyr Carrasco e o mês vocacional

Texto de P. Alcides Marques, CP

Agosto é o mês dedicado às vocações. É claro que sempre devemos rezar pelas vocações, promove-las, incentivar e apoiar. Mas, o mês de agosto tem um caráter especial e deve ser dedicado a uma maior tomada de consciência do valor e da importância das vocações na vida da Igreja. E tal tarefa não é apenas dos bispos e dos responsáveis pelas congregações religiosas, mas de todos os cristãos e cristãs. Este mês não é apenas de homenagens aos padres, pais, religiosos, catequistas e leigos. Mais do que isso: é o mês de tomada de consciência de que todos somos responsáveis pelas vocações na Igreja, especialmente pelas vocações sacerdotais e religiosas.

Eu vou te surpreender com uma reflexão partilhada pelo Walcyr Carrasco, na revista época, e que está acessível a todos pela internet. Exatamente. Nada mais nada menos do que o autor da novela “Verdades secretas”. Se você quiser ter acesso integral ao seu excelente artigo leia aqui: http://revistaepoca.globo.com/vida/walcyr-carrasco/noticia/2012/11/crise-das-vocacoes.html

Ele começa partilhando um encontro na Itália com duas religiosas conhecidas suas e destaca a forte experiência de realização pessoal transmitida por elas. Quando me despedi das duas, parti com uma sensação maravilhosa. As freiras eram pessoas em paz com a vida e com sua opção. E com um alto nível de espiritualidade”. Ou seja, as moças não transmitiram para ele uma imagem de fracasso, frustração e desânimo. Ao contrário, eram religiosas (freiras) e realizadas não só como religiosas, mas como pessoas humanas. E isso, não porque elas falaram. Elas transmitiam essa realidade. Lindo, não?

Continuando, ele constata que atualmente esse ideal de vida não é bem visto, inclusive por famílias católicas.  Há algumas décadas a opção pela vida religiosa era vista com alegria e orgulho. Hoje, em grande parte das famílias, é rejeitada. Se um adolescente quer ser padre, suspeitam que há algo de errado com ele. Se uma garota decide ser freira, como no caso da minha amiga, muitas vezes a mãe tenta dissuadir. Não é à toa que a Igreja Católica vive uma crise de vocações sem precedentes em sua história”. Triste realidade! Estamos conhecendo uma crise de vocações sem precedentes. Estamos vivendo num mundo sem grandes ideais e a vocação sacerdotal e religiosa exige uma forte dose de idealismo. Como interpretar este problema? Tem alguma luz?

Muitos de nós podemos estar pensando: é a questão do celibato a raiz do problema. Mas não é. O próprio Walcyr Carrasco reconhece que não é. E me parece que ele tem autoridade pra dizer isso. “Às vezes acho que damos importância demais ao sexo. Socialmente, conquistar, “pegar”, é sinônimo de uma vitória. Não condeno ninguém por pensar assim. O sexo se tornou fácil, descompromissado, um parque de diversões. Fala-se mais do que se faz. Os bem casados, depois de uns anos, diminuem o número de relações, em muitos casos deixam de tê-las. O que une os casais é o vínculo afetivo e espiritual. Acredito que se possa viver sem sexo e ser feliz. Não acho que o celibato seja a causa principal da rejeição à vida religiosa”. Bingo! Acertou em cheio! A causa realmente não é esta aí. Precisamos tomar cuidado com a possibilidade de uma leitura superficial das coisas.

No final de seu texto, ele partilha a sua contribuição no sentido de destacar o fator que de fato está contribuindo para esta crise. Talvez seja inconcebível, para muita gente, viver sem comprar sapatos novos, sem carro, sem trocar a decoração da casa. O que está no cerne da crise de vocações é uma visão consumista da vida, em que o prazer deve ser imediato”. O problema não está no sexo, mas nos valores predominantes em nossa sociedade. Se é que podemos falar em valores. Muitos chamam este tipo de sociedade que vivemos de sociedade da gratificação imediata. É óbvio que, sendo assim, não há lugar para grandes ideais. O imediatismo trabalha contra os ideais.

Ele termina lindamente sua reflexão: “Ser religioso não é uma opção para todos, é óbvio. Mas como encarar a vida religiosa quase como um desvio de personalidade se, afinal, somos cristãos? Ainda acredito que escolher uma causa é uma bela forma de viver “.