Texto de P. Alcides Marques, CP
No mundo em que vivemos um dos desafios mais fortes é o que diz respeito ao sentido da vida. Teria a vida realmente um sentido? Precisamos realmente de um sentido para viver? É preciso nutrir tal tipo de preocupação? Ou será que devemos viver conforme a onda, deixando a vida nos levar pra onde ela quiser (Skank)? O Evangelho tem hora que diz que não devemos nos preocupar com nada, mas tem hora que fala em caminhada, seguimento. Vários pensadores trabalharam esta questão. Vamos percorrer a solução (?) apresentada por três deles.
O filosofo existencialista franco-argelino Albert Camus (pronuncia-se Camí) diz claramente que a vida não tem sentido. Em uma de suas obras, “O mito de Sísifo”, ele defende a chamada filosofia do absurdo. Mas o que seria tal filosofia? Absurdo é algo que não tem sentido. Quando Camus afirma que a existência humana é um absurdo, ele quer dizer que a nossa vida não tem sentido e que não precisamos de sentido algum para viver. No entanto, tal afirmação não traz embutida a ideia de que a vida não deve ser vivida ou não vale a pena ser vivida. Ao contrário, ele afirma que a vida vale a pena ser vivida, mesmo sem sentido. É por isso que ele vai dizer que o herói grego Sísifo – condenado pelos deuses a rolar uma pedra gigante até o alto de uma montanha, mas que ao chegar ao topo a mesma rolava ladeira abaixo, obrigando o herói a ficar eternamente tentando realizar seu castigo – era feliz. Para Camus, Sísifo era feliz, pois mesmo com uma missão sem sentido, já que nunca podia ser realizada, ele não desistiu de viver. Mais ainda: ele era superior aos deuses, uma vez que estes não conseguiram vencê-lo. Sísifo tornou-se assim o modelo da vida de todos nós.
Krishnamurti, um filósofo indiano, está bem próximo ao modelo de Camus, mas para ele a questão não é se a vida tem ou não sentido. Pois a vida já é o sentido. Ninguém deve se perguntar, nem procurar sentido algum para o viver, pois o sentido da vida é viver. Krishnamurti entende que muitas pessoas vivem eternamente procurando um sentido para a vida e que nunca irão encontra-lo. E, assim sendo, vão viver desperdiçando a própria vida à procura de uma ilusão. A solução para este dilema seria muito simples: desistir de procurar um sentido para a vida. E o que fazer? Viver simplesmente, diria ele. Abrir os olhos, a mente, o coração para a própria realidade que se nos apresenta e acolher tudo o que de bom ela nos oferece. Simples.
Já o pensador austríaco Victor Frankl admite que a vida tem sentido. E ele parece responder a uma questão de fundo da ideia de Krishnamurti. Digo isso porque Frankl também não aceita a ideia de se viver procurando desesperadamente dar um sentido para a vida. Não aceita porque não somos nós que devemos dar sentido à nossa vida. É a própria vida que nos impõe um sentido. A questão que fica é a de descobrir qual é esse sentido. A nossa responsabilidade número 1 diante da vida é a de descobrir, tendo em vista o momento em que estamos vivendo, qual é o sentido que a vida aponta concretamente para cada um de nós. Não é para perguntar o que eu quero da vida, mas o que a vida quer de mim. A resposta à pergunta sobre o sentido da vida deve ser dada por cada um de nós. Ninguém pode responder por nós esta questão. A pergunta básica é a mesma: para quê eu vivo? o que me motiva a querer sair da cama todos os dias? eu vivo para que (uma causa) ou para quem (pessoas)?
Considero a solução de Camus uma solução falsa; a solução de Krishnamurti interessante e, sob certos aspectos, verdadeira, mas a de Frankl é a melhor. Melhor porque abre um horizonte fantástico para fazer da vida um caminho de felicidade, mesmo diante das dificuldades. Melhor porque é a que mais se aproxima do ideal cristão de seguimento de Jesus. Sempre vamos perceber a presença de Jesus em qualquer sentido que descobrirmos. Ele é Deus conosco.