As crises da vida e suas oportunidades

Texto de P. Alcides Marques, CP

Já é comum as pessoas tratarem as crises da vida de um ponto de vista muito negativo. “Eu estou passando por uma crise”; “minha família está em crise”; “o nosso país enfrenta uma crise”; “a crise da Igreja se prolonga” e assim por diante. Parece que crise é sempre uma situação ruim que deve ser superada o quanto antes. A crise é quase sempre colocada como um momento isolado. Nada mais.

No entanto, não é bem assim que se deve entender as situações de crise. E as experiências concretas de não poucas pessoas estão aí para provar que as crises podem se constituir em excelentes meios de crescimento. Assim sendo, quem sabe retirar das crises as suas lições – acredite: toda crise tem algo a nos ensinar -, sem dúvida, será capaz de sair das mesmas de uma maneira bem melhor.

Não estamos aqui canonizando as crises; dizendo que as mesmas são boas em si mesmas. O que estamos querendo afirmar é que as crises são sim ruins, mas que delas nós podemos tirar algo de bom. É bom lembrar que positivo e negativo estão misturados. E é sinal de sabedoria tirar (ou pelo menos minimizar) o negativo e ficar com o positivo.

Leonardo Boff diz que a palavra crise vem do sânscrito Kri ou kir e significa desembaraçar, purificar, limpar. A língua portuguesa conservou, neste sentido, as palavras crisol e acrisolar. A crise age como uma espécie de crisol (recipiente) capaz de acrisolar (purificar) a vida, as pessoas, o mundo. O crisol e o acrisolamento separam todas as impurezas e mostram a autenticidade das coisas.

Outra palavra derivada de crise, critério, indica a medida que as pessoas levam em conta para discernir o autêntico do inautêntico, o falso do verdadeiro, o certo do errado. Por exemplo: qual o critério que devo levar em conta para fazer uma compra pela internet? Em outras palavras: qual o critério para se detectar uma loja virtual autêntica, honesta, justa?

A crise é sempre uma perturbação da normalidade da vida. Com a crise, a vida não pode mais continuar do jeito que é. A crise exige uma mudança. E é aí que está o seu lado de sofrimento: nós não gostamos de mudança, quando quem tem que mudar somos nós. Teimamos em voltar para trás e a vida pede para ir para frente. O tempo que dura para nos convencermos da necessidade de mudar a nós mesmos e, sobretudo, o tempo que dura para agirmos nesta direção é o que se convencionou chamar o tempo da crise.

A crise exige uma tomada de decisões. Muitas decisões. Somente através da decisão é que a pessoa vai ter condições de realizar uma purificação da vida e realizar um novo arranjo existencial. A decisão é o “fogo” purificador da crise. Sem decisão não há purificação e a crise tenderá a aprofundar-se cada vez mais.

É claro que não se trata de qualquer decisão. Tem decisões que são profundamente trágicas porque tomadas no desespero da crise. Toda crise exige sim decisões. Quanto a saber quais são as melhores, isto vai depender da capacidade de ponderação de cada pessoa. O certo é que as pessoas não devem se deixar levar totalmente por suas emoções e sentimentos – que são muito aguçados em momentos de crise.

O lado bom da crise é exatamente a condição que esta oferece para um crescimento. Isto porque a crise indica que a normalidade da vida atingiu um ponto de saturação e está a exigir um passo qualitativo. A fé é a força que nos leva a não ter medo das crises e buscar sempre enfrenta-las. A fé não deixa que o mundo desabe sobre nossas cabeças. “ Esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé” (1 Jo 5,4).

Pense nas crises que você enfrentou e venceu. Não é um sensação agradável? Se vencemos as do passado, porque não as do presente? Sem crise minha gente.